O Carimbo
O Carimbo
Por Paulo Heuser
Recebi hoje um documento carimbado. Examinei bem de perto para certificar-me de que se tratava efetivamente de um carimbo. Daqueles que faz Plâm! Aparentemente não é uma cópia feita por computador, é um carimbo mesmo. Coisa rara hoje em dia. Os carimbos fizeram parte da vida de gerações, menos das últimas. Havia carimbos para tudo. Nossas certidões de nascimento eram carimbadas e ainda colavam alguns selos nelas.
Um presente infantil muito comum era o conjunto de carimbos de figuras diversas. Ótimo presente para crianças na faixa dos três anos. Especialmente se os pais compraram um sofá novo em cetim branco. Paredes brancas perdiam completamente a monotonia. Minhas filhas ganharam conjuntos de carimbos da Mônica. Guardei um deles. Quando os carimbos foram abolidos no meu trabalho, e alguém exigia que algo fosse carimbado, além de assinado, eu mandava um Cascão impresso sobre a assinatura. Nunca mais pediram carimbos.
Na pré-escola aprendemos a fazer carimbos com batatas. Uma batata e uma faca de ponta faziam verdadeiras obras de arte. Do primeiro carimbo a gente nunca se esquece. Lembro do meu. Recebi aquele carimbo limpinho, com o nome da empresa, meu nome e cargo. Observei que havia uma marca para indicar o lado de cima. Abri a caixa da almofada, coloquei tinta e mandei minha primeira carimbada profissional. Confesso que treinei primeiro numa folha em branco. Com um certo receio de borrar. Após a nona ou décima carimbada veio a confiança.
Os caixas de banco carimbavam de olhos fechados, no escuro, sem dar uma tremidinha sequer. Após a automação, muitos devem ter dado carimbadas no ar. Se carimbos trouxessem felicidade eu teria conhecido o sujeito mais feliz do mundo. Trabalhava na CEEE, no edifício Força e Luz, na Rua da Praia. Lá havia um setor de atendimento ao público, que recebia pedidos de ligação de rede, segundas-vias, etc. Tudo o que de lá saía, por ele era carimbado. E não havia apenas um ou dois carimbos. Eram pelo menos 30, dispostos em uma caixa de madeira forrada com veludo verde, internamente. Coisa finíssima! Os anos de experiência lhe permitiam encontrar um carimbo sem olhar para ele, enquanto lia o documento que seria objeto da sua especialidade. Estendia a mão em direção à caixa e sempre voltava com o carimbo certo. Ou seriam todos iguais? Nunca havia pensado nesta possibilidade!
No clube onde minhas filhas praticavam ginástica olímpica havia um treinador armênio. Todos os três armênios que conheci na vida têm nomes que lembram marcas de lavadoras de roupas. Gostaria de saber como se chamam lá as marcas das lavadoras de roupas. Apelidamos aquele em especial de Garrimba. Após o pagamento da inscrição em um campeonato, ele carimbava a ficha de inscrição. Tudo bem explicado em armenguês por meio da frase: - Zenhor paga, eu garrimba.
Os carimbos nos seguiam por tudo, nas cartas, nos documentos militares, atestados, certificados, e tudo o mais que a burocracia inventou. Imagino como seria na época do lacre de cera. Os maiores carimbos sempre foram os dos tabelionatos. Há também uma porção de flechas e mãos apontando com o dedo indicador.
Quando minhas filhas iniciaram sua vida social, descobri que carimbavam a mão dos menores de idade na entrada das casas noturnas para evitar que comprassem bebidas alcoólicas. Conheci no trabalho um sujeito que operava um imenso carimbo que imprimia “Arquive-se” em letras garrafais. Imagine só alguém mais velho receber um Arquive-se, ao entrar em uma casa noturna para jovens. Aquele carimbo era tão grande que sua batida tinha um som mais de “Fulmine-se” ou “Arrase-se”.
Não sei como andam as coisas, mas até pouco tempo atrás se recebia um carimbo também para partir desta.
Por Paulo Heuser
Recebi hoje um documento carimbado. Examinei bem de perto para certificar-me de que se tratava efetivamente de um carimbo. Daqueles que faz Plâm! Aparentemente não é uma cópia feita por computador, é um carimbo mesmo. Coisa rara hoje em dia. Os carimbos fizeram parte da vida de gerações, menos das últimas. Havia carimbos para tudo. Nossas certidões de nascimento eram carimbadas e ainda colavam alguns selos nelas.
Um presente infantil muito comum era o conjunto de carimbos de figuras diversas. Ótimo presente para crianças na faixa dos três anos. Especialmente se os pais compraram um sofá novo em cetim branco. Paredes brancas perdiam completamente a monotonia. Minhas filhas ganharam conjuntos de carimbos da Mônica. Guardei um deles. Quando os carimbos foram abolidos no meu trabalho, e alguém exigia que algo fosse carimbado, além de assinado, eu mandava um Cascão impresso sobre a assinatura. Nunca mais pediram carimbos.
Na pré-escola aprendemos a fazer carimbos com batatas. Uma batata e uma faca de ponta faziam verdadeiras obras de arte. Do primeiro carimbo a gente nunca se esquece. Lembro do meu. Recebi aquele carimbo limpinho, com o nome da empresa, meu nome e cargo. Observei que havia uma marca para indicar o lado de cima. Abri a caixa da almofada, coloquei tinta e mandei minha primeira carimbada profissional. Confesso que treinei primeiro numa folha em branco. Com um certo receio de borrar. Após a nona ou décima carimbada veio a confiança.
Os caixas de banco carimbavam de olhos fechados, no escuro, sem dar uma tremidinha sequer. Após a automação, muitos devem ter dado carimbadas no ar. Se carimbos trouxessem felicidade eu teria conhecido o sujeito mais feliz do mundo. Trabalhava na CEEE, no edifício Força e Luz, na Rua da Praia. Lá havia um setor de atendimento ao público, que recebia pedidos de ligação de rede, segundas-vias, etc. Tudo o que de lá saía, por ele era carimbado. E não havia apenas um ou dois carimbos. Eram pelo menos 30, dispostos em uma caixa de madeira forrada com veludo verde, internamente. Coisa finíssima! Os anos de experiência lhe permitiam encontrar um carimbo sem olhar para ele, enquanto lia o documento que seria objeto da sua especialidade. Estendia a mão em direção à caixa e sempre voltava com o carimbo certo. Ou seriam todos iguais? Nunca havia pensado nesta possibilidade!
No clube onde minhas filhas praticavam ginástica olímpica havia um treinador armênio. Todos os três armênios que conheci na vida têm nomes que lembram marcas de lavadoras de roupas. Gostaria de saber como se chamam lá as marcas das lavadoras de roupas. Apelidamos aquele em especial de Garrimba. Após o pagamento da inscrição em um campeonato, ele carimbava a ficha de inscrição. Tudo bem explicado em armenguês por meio da frase: - Zenhor paga, eu garrimba.
Os carimbos nos seguiam por tudo, nas cartas, nos documentos militares, atestados, certificados, e tudo o mais que a burocracia inventou. Imagino como seria na época do lacre de cera. Os maiores carimbos sempre foram os dos tabelionatos. Há também uma porção de flechas e mãos apontando com o dedo indicador.
Quando minhas filhas iniciaram sua vida social, descobri que carimbavam a mão dos menores de idade na entrada das casas noturnas para evitar que comprassem bebidas alcoólicas. Conheci no trabalho um sujeito que operava um imenso carimbo que imprimia “Arquive-se” em letras garrafais. Imagine só alguém mais velho receber um Arquive-se, ao entrar em uma casa noturna para jovens. Aquele carimbo era tão grande que sua batida tinha um som mais de “Fulmine-se” ou “Arrase-se”.
Não sei como andam as coisas, mas até pouco tempo atrás se recebia um carimbo também para partir desta.
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E-mail: prheuser@gmail.com
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