7.8.06

Fórmula Um. Pneu Zero.

Fórmula Um. Pneu Zero.

Por Paulo Heuser

Fazia um bom tempo que eu não assistia a uma prova de Fórmula 1. Gostava mesmo daquilo quando criança e adolescente. Não havia transmissão das corridas. Lia-se a respeito na única grande revista especializada. Um longo texto e algumas fotos descreviam cada etapa. Jim Clarck era meu ídolo, seguido de Graham Hill. Era uma época mais cheia de graxa.
Pois bem, derrubado por um tremendo resfriado, metido embaixo de um cobertor e sem nada para fazer no domingo, resolvi assistir ao Grande Prêmio da, onde foi mesmo, Hungria? Notei que as coisas mudaram muito na F 1. Já sabia que os pilotos haviam se transformado em macacos da Nasa, apenas apertando alguns botões. Não sabia, porém, que os carros também já não são decisivos para o resultado da corrida. O negócio agora é o pneu! Pelo que consegui inferir, havia duas corridas paralelas, a dos que tinham pneus que prestavam para a coisa e a dos que tinham os pneus bichados. Sabia-se com antecedência quem não venceria a corrida. O mais incrível é que os usuários dos pneus bichados faziam propaganda deles!
Outra coisa interessante era a narração da corrida, não daquela que estava sendo exibida na tela, deveria ser de alguma outra. Enquanto os carros disputavam uma, o narrador descrevia outra. Só não dizia qual. O narrador também nos informava sobre as fofocas dos bastidores. Jantara na noite anterior com um John-qualquer-coisa, cunhado do irmão da namorada do mecânico-chefe da equipe que fechou na temporada passada, que teria declarado que o dono da equipe para o qual o mecânico não aceitou indicar o irmão, não seria muito chegado em macarrão. Dá para imaginar como esta declaração bombástica afetou o desempenho dos pneus.
Pneus que furam, estouram, rasgam, se desgastam e soltam pedaços por todos os lados, piores do que os piores pneus recauchutados pela Borracharia do Tonhão Bacalhau. Duram 300 km, segundo declarou o narrador entre uma e outra fofoca. O Tonhão, que é o Tonhão, dá o dobro desta garantia! Tomara que não tragam toda essa tecnologia para os carros de passeio. Você já imaginou quantos pneus gastaria nas férias de verão? A cinco mil dólares cada um? E mais, se chover você será obrigado a trocá-los antes do tempo. Você também não imagina quanta gente é necessária para trocá-los – oito borracheiros por carro. Seriam borracharias públicas?
De resto, foi uma corrida bem animada. Havia carros passando sobre os outros, como se ali nada estivesse. Um alemão teimoso além de nada fazer tampouco desocupava a moita. Acabou estragando seu carro, para alegria dos que pretendiam levar a corrida a sério. Um espanhol corria tanto que sua equipe ordenou que reduzisse o ritmo (?). Equipe completamente incompetente, por sinal. O coitado entrou no box para trocar os pneus descartáveis com o carro em pleno funcionamento. Saiu de lá todo torto. Lembrou as revisões obrigatórias dos carros de rua.
Se fizessem algumas modificações eu até voltaria a assistir às corridas. Uma essencial seria a adoção de pneus de carros de passeio. Poderiam fazer toda corrida sem trocá-los. E teriam garantia de pelo menos 60 mil quilômetros.

E-mail: prheuser@gmail.com