31.10.06

Informação e Mercado

Informação e Mercado

Por Paulo Heuser

Câmbio e bolsa de valores são instituições extremamente sensíveis à conjuntura internacional. Também eram sensíveis à conjuntura nacional, até há pouco. Algo fez com que as bolsas e o câmbio ignorassem completamente os últimos dois anos da conjuntura política, apesar das inúmeras tentativas de desestabilizá-los. Não houve CPI que conseguisse impedir uma grande estabilidade nos mercados. Esta estabilidade deveu-se à falta de perspectiva de grandes mudanças no cenário econômico.

Tanto na bolsa como no câmbio, há quem ganha e há quem perde. Quando alguém ganha, outro perde. Quem compra na alta perde, quem compra na baixa ganha, pelo menos no curto prazo. Não há mágica, há informação. O hábil investidor sabe reagir rápido às mudanças e prevê as reações do mercado frente às mudanças de cenário. Vulcões, terremotos, pestes, guerras – menos a do Iraque, que já virou nicho de mercado -, tudo o que pode afetar o desempenho econômico afeta a bolsa, e o câmbio, em conseqüência.

Diz o folclore que um antigo ministro da fazenda solicitava à Polícia Federal que soltasse boatos sobre derrames de cédulas de dólares falsas para evitar a sangria na poupança, sempre no final do mês. É o tipo de factóide que mexe com os mercados.

As épocas de mercados estáveis são boas para os investidores sérios. São muito ruins para os especuladores, no entanto. Sem abalos, não há como lucrar muito da noite para o dia. O economista norte-americano Alan Greenspan (1926-) chefiou o FED – banco central dos EUA – entre 1987 e 2006. Cada vez que Greenspan abria a boca o mundo ouvia calado e as bolsas reagiam imediatamente, subindo ou caindo. Os EUA continuam a ser a locomotiva da economia mundial. Devido à capacidade do Greenspan de espalhar a (geralmente) má nova, pelo menos para o Terceiro Mundo, não resisti à tentação de apelidá-lo de Shitspam econômico – espalhador de, digamos assim, subprodutos da digestão, vá lá, econômica. A globalização fez com que uma azia do todo poderoso chefe do FED fosse sentida pelo mais humilde trabalhador de qualquer setor da economia dos outros países. O sucessor de Greenspan, Ben Bernanke, mostra uma capacidade ainda maior de espalhar subprodutos da digestão, apesar do nome pouco dado a trocadilhos digestivos.

É impressionante o poder de abalo dos mercados que algumas palavras, ou a sutil ausência delas, podem produzir. É aí que os especuladores entram em cena, vendendo aqui, comprando ali. Realizando rápido, o lucro é grande e certo. Daí a importância da informação do que acontecerá, do que será dito e do que deixará de ser dito.

O governo de transição na esfera federal - dele para ele mesmo - parece já ter sua versão nacional do Greenspan.

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