17.11.06

George de Tróia

George de Tróia

Por Paulo Heuser

A história se repete. Os chineses construíram aquela muralha de 3000 km, a partir de 220 AC. Agora o George W. vai construir a sua, de 1100 km. Sinais de que a insegurança não é assunto novo, mas continua atualíssimo. Os aglomerados humanos se transformam em condomínios, de todos os tamanhos. Também não é fato novo. As cidades milenares ainda apresentam resquícios das amuradas, que protegiam reis e cortes. Mais ou menos como hoje. Surgem novas Tróias diariamente, por todos os lados.

Há Tróias para uma só família, Tróias coletivas e novas cidades de Tróia. Belo nome para o novo condomínio: Residencial Nova Tróia. Na portaria, um aviso: “Não aceitamos cavalos, favor não insistir!”. Razões para tal aviso não faltaram. Um condômino chamado Páris andou levando a Dona Helena, mulher do Seu Menelau do Armazém Esparta, para dentro do condomínio. Deu o maior banzé. Páris era filho do síndico, Seu Príamo, que proibiu o descornado Menelau de adentrar muros, para buscar sua infiel Dona Helena. Nas atas das assembléias do condomínio, redigidas por um tal de Ulisses, da Imobiliária Ilíada, consta algo sobre uma invasão protagonizada pelo compadre do Seu Menelau, de nome Odisseu. Simulando uma tele-entrega de filé, a cavalo, o homem invadiu o condomínio e promoveu o maior quebra-quebra. De nada serviram os imensos muros.

São apenas histórias, mas servem para ilustrar a relativa fragilidade das muralhas. Soube do caso em que um ladrão chamado Aníbal levou o portão automático de uma casa, enquanto a dona gritava desesperadamente: “Aníbal às portas!”. Voltou no dia seguinte, para levar a cerca de grades de ferro.

Pois agora o Rei George W., que não é o da floresta (George of The Jungle, 1997), resolveu cercar seu condomínio, com o amém da assembléia, convocada com primeira chamada às 20h30 ou após a novela, o que ocorrer depois. Coisa de seis bilhões de dólares ou um milhão de Steve Austin – O Homem de Seis Milhões de Dólares –, bem inflacionados, diga-se de passagem, tanto os dólares como o Steve. Imagino a cara dos condôminos, quando George W. cobrar a chamada extra. Tudo para impedir que o pessoal do Condomínio Asteca, ao lado, venha trabalhar lá. Também quero ver a cara dos condôminos, quando tiverem de contratar diaristas e serventes com carteira assinada, de dentro do próprio condomínio. Vão chiar, pois os neotroianos não gostam de sujar as mãos. Nem de pagar os encargos trabalhistas. Para o trabalho sujo há máquinas, e astecas. Já estão pensando em trocar o nome da entrada do condomínio, de El Paso para Checkpoint Charlie. A rua que dá acesso ao portão será a Friedrichstrasse. O novo portão será rebatizado “Portão de Brandenburgo”.

Odisseu, compadre do Seu Menelau, já descobriu que aquele cavalo não é mais o melhor meio para invadir o condomínio. Hoje prefere Pégaso, o cavalo alado.

E-mail: prheuser@gmail.com