Semântica Natalina
Semântica Natalina
Por Paulo Heuser
O Brasil caiu nove pontos no índice que mede a corrupção nos países, segundo a Ong Transparência Internacional. Isto não quer dizer que a corrupção diminuiu, quer dizer que alguns países deixaram de ser mais corruptos do que o Brasil, que agora ocupa a 70a posição. Os julgadores devem ter olhado muito noticiário na televisão. Os três países menos corruptos do mundo são Finlândia, Islândia e Nova Zelândia, empatados em primeiro lugar. O país mais corrupto do mundo é o Haiti. Dá para perceber um padrão nisso? Custei um pouco a encontrá-lo, mas finalmente consegui. O que há de diferente no primeiro grupo em relação ao Brasil e ao Haiti? Sei, há muitas diferenças. Mas, dentre estas, tem as lândias. Se nos chamássemos Brasilândia, e o Haiti, Haitilândia, provavelmente estaríamos no topo do ranking da honestidade, ao lado das outras lândias. Já reparou que não há flanelinha nem cambista na Disneylândia? Viu só, outra lândia. Nosso problema é de semântica.
Outra evidência de que as lândias são honestas vem da Lapônia, terra do Papai Noel. Você acha que me pegou num duplo sofisma, não é? Dirá que a Lapônia não é lândia e o Papai Noel não existe. Bingo, a Lapônia também é conhecida como Saamilândia, sendo, portanto, uma lândia, mesmo que enrustida. Quanto ao Papai Noel não existir, bem, após as últimas eleições é melhor começar a acreditar. Em qualquer coisa, mas é bom acreditar, nem que seja no Papai Noel. Podemos dar um voto de crédito ao homem do saco de presentes.
Depõe contra o Papai Noel o fato de ter surgido na Turquia. Nada contra os turcos, mas a Turquia não está bem colocada no ranking da Transparência Internacional. Pode ser a hora de se colocar grades nas chaminés. Nunca se sabe, de repente o homem chega de saco vazio e sai de saco cheio, levando sua plasma novinha para fazer distribuição de renda.
No Sul o homem ainda se dá bem, pois há chaminés, senão da lareira, pelo menos a da churrasqueira. Como fará no resto do país? Entra direto na fogueira? Particularmente, sempre achei essa história de Papai Noel meio sádica. A criança pobre que se rebentou estudando e ajudando os pais o ano todo nada recebe do dito cujo. Já a peste bem nascida, mesmo que completamente inútil, é lembrada pelo velhinho do saco vermelho. Há algo muito estranho nessa história.
Nos bons tempos, quando ainda conseguia visitar mais chaminés, o Papai Noel costumava chegar aqui lá pelo dia 24 de dezembro. Antes disso, só mesmo nos clubes ou associações de funcionários de algum lugar. Hoje é diferente. Graças ao alto índice de automação industrial conseguido pela fábrica de brinquedos da Lapônia – ficará na China? -, o velhinho consegue chegar aqui no final de outubro. E deixou centenas de anões desempregados. Coisas da globalização. As renas não dependem de controladores de vôo. E o Papai Noel apelou para outsourcing – terceirização - na China. Talvez se explique a invasão de anões no comércio informal. Explica também as lâmpadas de Natal. Milhões, bilhões, de lâmpadas de Natal, que fazem algumas ruas da cidade ofuscar Las Vegas numa noite de sábado.
Não só o velhinho do saco vermelho precisa dispor de um saco enorme. Devido à sua chegada prematura, há de se ter um, para suportá-lo por tanto tempo.
E-mail: prheuser@gmail.com
2 Comments:
Tem uma cidade satélite no Distrito Federal chamada Ceilândia. Não me consta que ela seja melhor em termos de honestidade que o restante do Brasil. Talvez por ficar no Distrito Federal seja até pior...
Zé Alfredo:
Sei, há também Brasilândias em MS e MG, pelo menos, sem mencionar a Suazilândia. A idéia é apenas criar um suporte para a crônica, mesmo que duplamente falacioso, como é o caso.
Abraço,
Heuser
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