14.11.06

Lurdinha e as Elites

Lurdinha e as Elites

Por Paulo Heuser

O suíço Fritz Zwicky (1898-1974) constatou, em 1937, que os movimentos das galáxias ocorriam de forma diferente da previsão teórica. Para explicar o observado, far-se-ia necessário multiplicar por dez a massa visível dos conglomerados estelares objeto do estudo. Veio então a constatação de que o Universo estaria repleto de matéria escura. O adjetivo “escura” refere-se à impossibilidade de detecção, ou seja, não emite nenhuma radiação detectável. Perceptível apenas pelo efeito gravitacional. Massa e energia estão intrinsecamente relacionadas, pela mais célebre das equações. Assim, se existe matéria escura, deve existir energia escura. Daí chega-se à força.

O ex-presidente Jânio Quadros (1917-1992) renunciou em 1961, pressionado pelas forças ocultas. Ocultas, não visíveis, perceptíveis apenas pela força exercida sobre o então presidente. Durante outro momento histórico da nação, Tenório Cavalcanti (1906-1987), conhecido como “Homem da Capa Preta”, ou “Deputado Bandoleiro”, exerceu grande força, oculta sob a capa preta, na forma da Lurdinha, a metralhadora. Não poderíamos classificar a Lurdinha como força oculta, pois se tornava perfeitamente visível e perceptível quando cuspia fogo. Sabe-se lá que tipos de forças moviam a Lurdinha contra a então elite de Duque de Caxias, Baixada Fluminense.

George W. Bush invadiu nações à procura das armas ocultas de destruição em massa. Tão bem ocultas que até hoje não foram encontradas. Chegou próximo, destruiu uma fábrica de macarrão. Certamente as armas foram ocultadas pelas forças ocultas que protegem as armas ocultas. Nada ocultas estavam as forças que escancararam o fracasso da empreitada, derrotando o partido republicano nas confusas urnas.

Hoje chamam as forças ocultas de “elites”. Força é algo definível e mensurável, mesmo que incompreensível. Elite tem inúmeras definições, conforme o contexto. Algumas definições estão relacionadas à estratificação do poder. Força é identificável, elite é anônima. O fracasso do experimento cosmológico atribui-se à matéria escura, no singular. Se não é detectável, como colocá-la no plural? O fracasso do experimento político atribui-se às elites, no plural. Estando no plural, estarão identificadas? Serão inomináveis?

Há uma corrida atrás da matéria escura. Quem identificá-la, certamente passara à história. Há uma corrida fugindo das forças ocultas. Quem identificá-las será linchado em praça pública. Será culpado pela extinção da justificativa universal para o fracasso.

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