26.12.06

Estranhos Encontros

Estranhos Encontros

Por Paulo Heuser

Nesta quarta-feira, 27 de dezembro, será lançado o satélite francês Corot, a partir da base de lançamento de Baikonur, no Cazaquistão. O satélite irá procurar planetas extra-solares com condições, para abrigar vida, semelhantes às da Terra. Lá vamos nós, à cata de algo que nos diga que não estamos sós no Universo. Frank Drake (1930-), diretor do Projeto Seti - que procura sinais de vida inteligente fora da Terra -, criou a chamada Fórmula de Drake, que permite estimar a distância média entre civilizações supostamente inteligentes, a partir de diversas variáveis (http://astro.if.ufrgs.br/vida/index.htm). Chega-se à distância média de 13.500 anos-luz. É uma enorme distância. Ou seja, se mandarmos uma mensagem de rádio às estrelas perguntando sobre a presença de alguém suficientemente inteligente para receber a questão e respondê-la, passar-se-iam 27.000 anos até que o sim fosse por nós recebido. Se ainda houvesse alguém aqui para receber a resposta.

Uma coisa que me intriga é o que faríamos se descobríssemos que efetivamente não estamos sós no Universo. Iríamos criar o feriado do Dia do Exovizinho? E depois? Enviaríamos outro sinal dizendo “Que bom que vocês estão aí!”, esperando mais 27.000 anos pela resposta? Em Contato (1985), Carl Sagan (1934-1996) imaginou uma ótima saída para o problema: os vizinhos enviariam um esquema para que pudéssemos construir uma máquina para transporte através de buracos de minhoca (wormholes), ou algo parecido, percorrendo instantaneamente os 26.000 anos-luz que nos separam da estrela Vega.

Conhecendo a Humanidade, como a conheço, posso imaginar como seria o tão aguardado contato. O primeiro passo seria a escolha de um representante da população da Terra. Após dois anos de negociações e quatro anos de guerra mundial, escolheríamos um representante da sociedade civil. Mais dois dias de negociações, e quatro décadas de guerras, nos permitiriam escolher o representante religioso, ou melhor, os oito representantes, na verdade. A grande confusão se estabeleceria na hora de escolher o representante dos patrocinadores. Resolvida apenas quando uma holding comprasse todos competidores pela vaga. Acabariam enviando um advogado com uma minuta de contrato de exclusividade, seja lá do que fosse. Quando a comitiva chegasse no planeta habitado de Vega, o que fariam? Convidariam todos para um churrasco, com direito ao show da Ivete Sangalo.

Esta é uma preocupação para diversos povos, inclusive para os brasileiros, que participaram com dois por cento dos recursos do Projeto Corot, cerca de dois milhões de dólares. Bem melhor aplicados do que os hipotéticos sete milhões de reais mencionados em um factóide sobre a remuneração de uma suposta Ong Sociedade Amigos de Plutão, brincadeirinha inventada por um jornalista e alardeada por um senador da República. Depois desmentida. Depois das eleições. Brincadeirinha! Temos uma versão nativa do Orson Welles. Nossa guerra dos mundos era em Brasília.

O Brasil participou do Projeto Corot, com verbas. Poderia prover tecnologia também. Aqui há a convivência pacífica entre estrelas de quaisquer constelações. Menos do PSol.

E-mail: prheuser@gmail.com