Alcatraz?
Alcatraz?
Por Paulo Heuser
Sextas-feiras são dias diferentes. E esta, 13, não fugiu à regra. Após tentarem me assassinar no trânsito, diversas vezes, ingressei na batalha da Riachuelo, novamente. Lá estavam novamente os caminhões de entregas, estacionados por toda parte. Naus corsárias entregando a pilhagem. Até aí, tudo bem. Já me acostumei com o congestionamento diário. Acabei de sair do viaduto que tem faixa de passagem para pedestres e parada de lotações. Por que não sigo por outro caminho? Porque não há outro, para chegar à garagem. Contudo, hoje houve um novo fato, assustador, por sinal.
Eu já havia reparado nas estranhas pessoas que amanhecem na Riachuelo. Como baratas flagradas pelo acendimento repentino da luz, elas andam de forma errática, caem sobre os automóveis estacionados e agarram-se aos postes, na tentativa de permanecem de pé. Seus labirintos apresentam sérias disfunções. Os olhos dessas baratas humanas lembram aqueles olhos das... baratas. Já olhou uma barata, olho no olho? É bem assim. Quando conseguimos vê-los. Geralmente estão cobertos por capuzes que não têm apenas a função de protegê-los contra o frio matinal deste inverno.
Pois hoje as baratas entraram em luta, aos bandos. Começaram pelo passeio público, do lado esquerdo, atravessaram a Riachuelo e estabeleceram um campo de batalha na esquina da Vigário. A turma do deixa disso e mata de uma vez apareceu logo, somando-se à confusão generalizada. E eu parado ali, assistindo a tudo de camarote, me borrando de medo, no Cirque du Soleil da vida real. Sem rede, sem ingresso nem tapis rouge. Lá só havia asfalto rouge de sangue, sem tapete. Procurei não respirar. Não olhei para os lados. Fingi apenas que estava esperando o sinal abrir, o que não deixou de ser verdade. As baratas respeitaram a legislação de trânsito, pelo menos. Quando o sinal mudou para o verde, foram brigar na Vigário, obsequiosamente deixando a passagem livre na Riachuelo. Havia pelo menos uma barata ninja, que fazia cinematográficos movimentos circulares com as pernas. Acertava apenas paredes, latões de lixo e postes. Não sei como, não acertou nenhum carro, apesar de rodopiar no meio deles. Deve ser um dublê de Kung Fú. Lugar confuso aquele, entre Dr. Flores e a Vigário. Será que tem algo a ver com o nome de um bar que por lá se instalou: Alcatrass (sic)?
A sexta-feira prosseguiu como deveria prosseguir a de número 13. Recebi uma mala-direta. Malas indiretas são aquelas que seguem enquanto o dono fica, ou vice-versa. A mala-direta que recebi começou com o texto: “Este contato é para ajudar você a deixar uma questão importante completamente resolvida”. Interessante, pois veio de um crematório. Oferecem até cartão fidelidade! Será um aviso?
Marcadores: Alcatraz, Gangues de rua, Riachuelo
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