Voluntários suicidas
Voluntários suicidas
Por Paulo Heuser
Não consigo entender os suicidas ideológicos, aqueles que vão à morte por uma causa. Por mais que eu aceite a existência dos fanatismos religiosos e patrióticos, não consigo entendê-los. O que leva alguém a se matar por uma causa? O desamor pela vida, talvez. Matariam-se de qualquer forma, mas uniram o inútil ao desagradável. Fica o exemplo dos pilotos suicidas japoneses da II Guerra Mundial. Kamikaze, como eram conhecidos no ocidente, foi o tufão que salvou o Japão da armada de Kublai Khan, em 1281. O sujeito decolava a bordo de um avião cheio de explosivos e se esborrachava contra os navios inimigos. A suprema desgraça para eles era sobreviver, quando abatidos antes de atingir o alvo. Sobreviviam desgraçadamente, vivendo na vergonha da derrota.
Os novos tempos trouxeram os suicidas a jato, que levam um time de não-suicidas na carona. Suprema vingança alada das Cruzadas. Outros vão de caminhão, de trem ou mesmo a pé. Em comum, têm os explosivos. Morrem em nome da guerra santa, movidos pela fé cega. Há também uma nova classe de suicidas relacionados com a aviação. Os atendentes das companhias aéreas brasileiras. Pessoas que arriscam a vida em troca de um salário modesto. Não tão modesto como o soldo de um bombeiro, é verdade. Mas, acordam pela manhã, quando conseguiram dormir, cumprem as obrigações de qualquer mãe ou pai, e rumam ao aeroporto, prontos para enfrentar um exército ensandecido de passageiros deixados no chão. Agem por instinto, pois lhes falta informação. Choram e apanham, servindo de escudo para aqueles que mereceriam apanhar. E a próxima sexta-feira, como será?
As artes remetem à vida, ou será a vida que remete às artes? Seja como for, morre-se também pela vida. A própria, fique claro. No filme “Os 12 condenados” (The Dirty Dozen)(1967), de Robert Aldrich, uma dúzia de soldados condenados à penas terríveis, como a morte, têm oferta de perdão em troca de uma missão suicida contra o território inimigo. A idéia é mais antiga, pois a Legião Estrangeira Francesa, fundada pelo rei Louis-Philippe, em 1831, contrata soldados estrangeiros, sem fazer perguntas sobre o seu passado. Mas, como é admitida a identidade fictícia para o alistamento, muitos franceses condenados pela justiça daquele país acabam se alistando. Após um ano de serviços prestados, podem optar pela cidadania francesa, de ficha limpa. No clássico francês Nikita (1990), de Luc Besson, vemos outra situação semelhante, quando uma condenada à morte troca a pena pelas missões perigosíssimas.
O caso dos últimos, até que dá para entender. Morreriam, de qualquer forma. Mas, o que leva alguém a se candidatar ao Senado?
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Marcadores: Kamikaze, Kublai Kahn, Legião Estrangeira, Luc Besson, Nikita, Os 12 condenados, Robert Aldrich
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