21.6.07

Os Navegadores


Os Navegadores

Por Paulo Heuser


A tecnologia desenvolvida para os carros de competição acaba sendo estendida aos carros de passeio. Após as últimas chuvas, isso ficou patente. Surgiram milhares de novos buracos no asfalto. Há buracos para qualquer gosto, redondos, quadrados, voçorocas, trincheiras e tudo mais onde um pneu possa entrar. O borracheiro já está implantando o caderno, aceitando o pagamento mensal. Os buracos podem se apresentar secos ou molhados. Dos molhados sai água, em abundância, o que dificulta sua localização.

Eis que a tecnologia vem no auxílio aos motoristas. Os novos modelos de carros terão, como opcional, o radar e o sonar, equipamentos que permitirão a localização e a determinação da profundidade dos buracos, secos e molhados. Virão como complementos do GPS – sistema de navegação por satélite -, que é capaz de guiar o motorista até o destino. Só não sabe onde estão os novos buracos. Os sistemas de GPS costumam ter guias de voz, disponíveis em diversas línguas, menos em português. Em inglês, vai bem. Não recomendo o alemão, especialmente para quem não o conhece. Quando finalmente ele terminar de falar para tomar a terceira saída à esquerda, na rotunda, a cidade já estará longe. Aliás, as rotatórias podem ser bem complicadas. Daí a importância do navegador, figura copiada dos ralis, responsável pela tradução dos sinais gráficos e ordens faladas em comandos ao motorista. Navegadores multilingües podem ser muito úteis. Especialmente para ler placas em alemão. São longas e distraem demasiadamente o motorista. Instruções não ajudam, pois ler Fahranfängerfortbildungsverordnung pode ser perigoso. Acidentes acontecem antes do segundo “f”.

Cabe ao navegador, que poderá ser o cônjuge, pais, filhos, ou outros, passar as informações ao motorista de forma simples e clara, como:

“- Mantenha-se diagonalmente à esquerda em 723 metros, pegando a quarta saída à direita e fique à direita para tomar a Rodovia A6, cruzada pela E52, acessível pela falsa rotunda de entrada única, após 17 metros”.

Já aqui, adapta-se a parte referente aos buracos. Além das simples instruções de praxe de todo o GPS, acrescentam-se as do radar e do sonar:

“- Desvie do buraco em 27 metros localizado à esquerda da faixa, com profundidade de 24 cm e diâmetro de 76 cm, sem cair na voçoroca junto ao acostamento, com extensão de 298 metros e profundidade variável!”.

Facilita em muito a condução. O tom de voz deve ser ajustado conforme a profundidade e a proximidade dos buracos.

Fiquei intrigado com uma notícia ouvida do rádio do carro, hoje pela manhã, enquanto tentava desviar dos buracos, sem navegador, sem radar nem sonar. Comentavam que um relatório acusaria a existência de controladores de vôo gagos e surdos. Para os últimos, um intérprete de libras – linguagem brasileira de sinais - poderá ajudar. Mas, e para os primeiros? Pilotos surdos?
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