11.6.07

Efemérides

Cupido, de William-Adolphe Bouguereau
Efemérides


Por Paulo Heuser

Doze de junho é Dia dos Namorados, no Brasil. E os outros dias são o quê? Dia das Mães, dos Pais, das Crianças, etc. O dia 13 de junho é Dia do Turista. Faz sentido, o número do azar, quando se vê a bagunça nos aeroportos. O sujeito compra um pacote de feriadão em Buenos Aires e dorme uma noite no Rio de Janeiro, uma em Montevidéu e uma em Brasília. Dorme nos aeroportos, bem entendido. Mora em Florianópolis. É o turismo lotérico que se afirma. Vá, sem saber quando, nem para onde.

Avançando-se um dia, até o 14, chega-se ao Dia do Doador de Sangue, efeméride que homenageia não apenas os nobres cidadãos que doam vida aos seus semelhantes. Homenageia também a todos aqueles que têm seu sangue sugado involuntariamente, nesse e nos demais dias do ano, na forma de impostos. Alguns pensaram em mudar a efeméride para Dia do Contribuinte. Já havia uma: 25 de maio. Dia 15 de junho é o Dia do Paleontólogo. Ganharão ossos velhos novos? Dezessete de junho é um dia inventado por alguém que fabricava pijamas listrados e pantufas. É o Dia do Funcionário Público Aposentado. Coitados, cairá em um domingo. Se bem que, aposentados, nada perderão. Os da ativa não poderão rir deles, pois o 28 de outubro também cairá em um domingo.

Quem inventou o Dia dos Namorados fabricava bombons. Inventou uma boa forma para livrar-se dos estoques, antes que mofassem. Os tempos desvirtuaram a coisa. Hoje se presenteia com celulares, milhões de celulares novos. Celulares que falam, que ouvem, que registram, que navegam, que tocam. Pode-se namorar a distância, com eles. Ou melhor, entre eles. Antigamente o Cupido enviava flechas aos apaixonados. Hoje os apaixonados mandam torpedos, através do cupido celular. Evoluímos, das flechas aos torpedos. Evoluiremos às ogivas múltiplas? Quem já o havia feito, foi Ranário, sujeito bem apessoado e galanteador. Ele não perdia oportunidade de angariar múltiplas namoradas. Andava sempre bem vestido, jogando charme para todos os lados. Tinha um fabuloso arquivo de cantadas temáticas. Para as enfermeiras vinha com um meloso “Posso colocar meu estetoscópio no teu coraçãozinho?”. Algumas o consideravam meio brega, mas fazia sucesso, mantendo sempre um harém de pelo menos cinco namoradas. Ranário investia muito na imagem de galã. Roupas, perfumes, celulares, tudo fazia parte do leque de ferramentas do ofício. No dia 12 de junho, Ranário pedia licença no trabalho, para poder homenagear o maior número possível de namoradas. Era freguês preferencial de floriculturas e telemensagens. Os torpedos que enviava nesse dia eram suficientes para afundar dez Bismarks. Escorria mel perfumado deles.

Ranário não entendeu por que razão perdeu sua mais linda namorada para o Normélio, o Insosso. E não foi por conta de algum galanteio espantoso. Foi ela que correu atrás do Normélio, na verdade. Ele se limitou a lhe sorrir e lhe ceder passagem, na entrada do elevador.


E-mail: prheuser@gmail.com

Marcadores: