Libertadoras do Brasil
Libertadoras do Brasil
Por Paulo Heuser
Há dias em que estamos caminhando, ou fazendo qualquer outra coisa rotineira, e vem aquele lampejo. Vem do nada. Não estávamos pensando no assunto, mas o assunto se intromete na nossa rotina, sem pedir nem receber permissão. Foi o jogo da Libertadores. Por que veio? Não percebi imediatamente a extensão da coisa. Não parecia nada de novo, pois é só do que falam, nos últimos tempos. Foi então que uma coisa começou a encaixar na outra. Restou descobrir qual era a outra coisa. Não foi muito difícil, na verdade.
Vejamos, agremiações, equipes de adversários, somente um sairá vencedor, ser o segundo não interessa a ninguém, campanhas na mídia, patrocinadores, torcidas, ótima remuneração, o céu e o inferno se alternam e troca de técnico na derrota. E dois turnos, a coisa se resolve em dois turnos. A semelhança entre futebol e política é obvia. Com as guerras, também. Os cartolas são os mesmo, sempre os mesmos, alternando-se de quando em quando. Perdem esta, vencem aquela. Técnicos, secretários, todos se alternam com os candidatos.
Contudo, há de se destacar alguns aspectos onde futebol e política diferem, muito ou pouco. Iniciando pelos jogos. Os jogos de futebol têm tempo certo, para começar e para terminar – 90 minutos, em tese. São muito curtos, quando comparados aos jogos políticos. Estes podem tornar-se intermináveis, transcendendo o próprio campeonato. Os jogos de futebol têm arena definida, os políticos ocorrem tanto em arenas definidas como em outras nem tanto. Nos dois esportes os jogadores podem trocar de time durante o campeonato, mas em um deles a troca nem sempre é muito divulgada, ocorre dentro das próprias competições.
O aspecto no qual mais diferem, é a torcida. As agremiações futebolísticas contam com enormes torcidas espontâneas. Torcem por amor à camiseta. Camiseta que vestem, orgulhosamente. Suas bandeiras estão sempre desfraldadas. A paixão pelo esporte faz com que pacatas donas de casa tornem-se protótipos da vovó hooligan, excluído o lado violento do movimento, é claro. Vestem a camisa, gritam, xingam, agitam bandeiras e rezam, sem receber nada em troca, além da imensa satisfação ou frustração de verem seus times vencer ou perder. Dificilmente trocam de time. Nascem, crescem e são enterradas, enroladas na bandeira do timão.
A torcida política é algo diferente. As grandes movimentações da torcida ocorrem apenas nos finais de campeonato, quando ocorre troca da diretoria. Ali não há vovó hooligan. Há a vovó do fisiologismo. Passado a decisão, esquecem-se de tudo. A camiseta vira pano de chão e o pau da bandeira vai ao fogo. Nos próximos quatro anos – ou dois? -, tudo pode mudar. O entusiasmo profissional da torcida política contrasta com o ativismo voluntário da torcida esportiva. Nesta há paixão.
Estão aí a reforma política e a Libertadores. Não há santos, nem no futebol profissional, nem na política, desculpem-me os santistas, pelo involuntário trocadilho. Contudo, se as vovós hooligans entrassem na política, as coisas seriam muito diferentes. Os jogadores e técnicos ruins não durariam meia dúzia de sessões legislativas. Elas seriam as Libertadoras do Brasil, senão da América.
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Marcadores: futebol, Grêmio, Libertadores, politica
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