20.6.07

O dia em que o mundo acabou


O dia em que o mundo acabou

Por Paulo Heuser

O escritor escocês Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) escreveu novelas de ficção científica, antes de criar o famoso detetive Sherlock Holmes. Duas me impressionaram especialmente, além do Mundo Perdido. Continuando a saga do Dr. Challenger, personagem daquele livro, Conan Doyle escreveu O Dia Em Que o Mundo Acabou (1913) e O Dia Em Que a Terra Gritou (1928).

O Dia Em Que o Mundo Acabou (The Poison Belt) narra a passagem da Terra por um cinturão de gás, denominado éter, que fez todos seres vivos adormecerem durante algumas horas, menos os aventureiros de O Mundo Perdido, que contavam com cilindros de oxigênio. Quase toda história se desenvolve nos dias que precederam a passagem do planeta pela nuvem, com todas incertezas e angústias decorrentes. A grande pergunta era: morreriam todos naquele dia?

O Dia Em Que a Terra Gritou (When The World Screamed) tem o Dr. Challenger novamente como personagem. Nessa fantástica novela, o personagem é convidado a opinar sobre uma descoberta feita em um profundo poço, em profundidades nunca atingidas. Atingem uma manta de aparência muito estranha, muito diferente de rocha, ou qualquer outra coisa que esperavam encontrar lá embaixo. Conan Doyle consegue criar muito suspensa, até a revelação do que havia sob a manta, quando perfurada. O centro da Terra seria um ser vivo, extremamente incomodado pela presença humana, que lhe perfurara a pele. Daí o pavoroso grito que ecoou por todo o planeta.

O dia ainda não raiou, mas já temo pelo fim dele. Este não é um dia qualquer, que se repete semanalmente, monotonamente, sazonalmente. Quarta-feira é dia de feira, mas nesta quarta há muito mais do que a feira de hortifrutigranjeiros. Hoje a temperatura já subiu bastante, prenúncio do que está para vir. O único caminhão da decrépita feira está passando.

Não sei como este dia terminará, mas Conan Doyle previu. Hoje as ruas ficarão desertas, à espera do éter que vem de longe, do cinturão venenoso portenho. Sequer os cães se arriscarão pelas ruas. Todos se recolherão às suas casas ou aos seus bares para aguardar a passagem do éter alienígena. Alguns se arriscarão mais longe. Entrarão no enorme buraco cavado no Olímpico, a aguardar o grito improvável, mas não impossível, vindo das entranhas do poço. A desvantagem de 3 a 0 está mais para a permanência no éter, pelo menos até amanhã.

O resultado da reunião do Conselho de Ética do Senado poderia gerar outro grito tremendo. Também improvável, a permanecer a história das vacas alagoanas. De qualquer forma, não seria ouvido aqui, onde todos estão atravessando o éter.



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