389 - Hurerê
Batalha Naval do Riachuelo - Victor Meireles, 1872
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Hurerê
Por Paulo Heuser
Trim... Trim... Trim... – Alô!
- Amorim?
- Sim, quem é?
- Lugo!
- Quem?
- Lugo, presidente eleito do ...
- Ah, sim, esse Lugo!
- Soube que o Lula não vai querer negociar!
- Nada disso, nós queremos pagar o que é justo!
- O que vocês consideram justo?
- O preço de mercado está bom? Achamos justo.
- Não precisa tanto, fechamos pela metade...
- Não! Nós exigimos pagar mais!
- Do que você esta falando, Amorim?
- De Itaipu, é claro!
- Oh, eu falava da outra dívida...
- Outra, que outra?
- A da Grande Guerra. Nós até hoje sofremos porque vocês se juntaram com a Argentina e o Uruguai e fizeram aquela tremenda safadeza. Nenhum governante eleito democraticamente poderá dormir tranqüilo enquanto não formos indenizados.
- Mas, isso foi em 1870, Fernando. Não há como responsabilizar uma nação pelos atos cometidos há tanto tempo! Se fosse assim, a Alemanha ainda estaria pagando a dívida de guerra, da Primeira, inclusive.
- Si, pero o Lula mandou pagar o que o Evo pediu. E disse que quer construir universidades na África para compensar a dívida moral contraída pelo povo brasileiro. Nos perdemos 300 mil bravos soldados naquela guerra. Isto que é dívida.
- Certo, mas o Evo era estratégico, e podia fechar a torneira do gás.
- Ora, Amorim! Eu construo uma taipa no reservatório e inundo vocês todos.
- Veja, Fernando: Vocês também têm uma grande dívida conosco, por conta dos carros roubados que cruzam a fronteira para o Paraguai todos os dias. O seguro dos nossos carros é caríssimo, pois contempla o roubo...
- Ora, ora, Amorim! Nenhum paraguaio rouba carros no Brasil. Nem no Paraguai, diga-se de passagem. Não há por que roubá-los, pois os carros brasileiros são muito baratos aqui. Se alguém rouba carros no Brasil, certamente é brasileiro. São vocês que exportam os carros para nós. Se não são capazes de cuidar da própria fronteira, nada podemos fazer.
- Certo, mas há o problema da muamba que vem da China, passa por aí e entra no Brasil.
- Ora, ora, ora, Amorim! Nós somos apenas um entreposto. Os chineses fabricam, vocês compram. Se comprarem, o problema é seu!
- Mas, Fernando, é tudo fruto de contrabando ou descaminho!
- Ora, ora, ora, ora, Amorim! A fronteira e a aduana são suas. Se vocês não sabem cuidar delas, o problema não é nosso! E chega de conversa fiada, senão vamos à guerra!
- Calma Fernando. O que você quer, afinal?
- Quero uma reparação territorial!
- Isso vai ser difícil! Onde, lá na Foz?
- Não me venha com Foz, Cacupé ou Hoaquina. Queremos no Hurerê!
1 Comments:
Gostei, Hurerê... Sutil, gostei.
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