24.4.08

389 - Hurerê


Batalha Naval do Riachuelo - Victor Meireles, 1872
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Hurerê

Por Paulo Heuser


Trim... Trim... Trim... – Alô!

- Amorim?

- Sim, quem é?

- Lugo!

- Quem?

- Lugo, presidente eleito do ...

- Ah, sim, esse Lugo!

- Soube que o Lula não vai querer negociar!

- Nada disso, nós queremos pagar o que é justo!

- O que vocês consideram justo?

- O preço de mercado está bom? Achamos justo.

- Não precisa tanto, fechamos pela metade...

- Não! Nós exigimos pagar mais!

- Do que você esta falando, Amorim?

- De Itaipu, é claro!

- Oh, eu falava da outra dívida...

- Outra, que outra?

- A da Grande Guerra. Nós até hoje sofremos porque vocês se juntaram com a Argentina e o Uruguai e fizeram aquela tremenda safadeza. Nenhum governante eleito democraticamente poderá dormir tranqüilo enquanto não formos indenizados.

- Mas, isso foi em 1870, Fernando. Não há como responsabilizar uma nação pelos atos cometidos há tanto tempo! Se fosse assim, a Alemanha ainda estaria pagando a dívida de guerra, da Primeira, inclusive.

- Si, pero o Lula mandou pagar o que o Evo pediu. E disse que quer construir universidades na África para compensar a dívida moral contraída pelo povo brasileiro. Nos perdemos 300 mil bravos soldados naquela guerra. Isto que é dívida.

- Certo, mas o Evo era estratégico, e podia fechar a torneira do gás.

- Ora, Amorim! Eu construo uma taipa no reservatório e inundo vocês todos.

- Veja, Fernando: Vocês também têm uma grande dívida conosco, por conta dos carros roubados que cruzam a fronteira para o Paraguai todos os dias. O seguro dos nossos carros é caríssimo, pois contempla o roubo...

- Ora, ora, Amorim! Nenhum paraguaio rouba carros no Brasil. Nem no Paraguai, diga-se de passagem. Não há por que roubá-los, pois os carros brasileiros são muito baratos aqui. Se alguém rouba carros no Brasil, certamente é brasileiro. São vocês que exportam os carros para nós. Se não são capazes de cuidar da própria fronteira, nada podemos fazer.

- Certo, mas há o problema da muamba que vem da China, passa por aí e entra no Brasil.

- Ora, ora, ora, Amorim! Nós somos apenas um entreposto. Os chineses fabricam, vocês compram. Se comprarem, o problema é seu!

- Mas, Fernando, é tudo fruto de contrabando ou descaminho!

- Ora, ora, ora, ora, Amorim! A fronteira e a aduana são suas. Se vocês não sabem cuidar delas, o problema não é nosso! E chega de conversa fiada, senão vamos à guerra!

- Calma Fernando. O que você quer, afinal?

- Quero uma reparação territorial!

- Isso vai ser difícil! Onde, lá na Foz?

- Não me venha com Foz, Cacupé ou Hoaquina. Queremos no Hurerê!

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1 Comments:

At quinta-feira, 24 abril, 2008, Blogger Unknown said...

Gostei, Hurerê... Sutil, gostei.

 

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