383 - A vida de Bárion
Oak Ridge (Foto: Wikipedia)
A vida de Bárion
Por Paulo Heuser
Bárion não sabe exatamente onde nasceu. Sabe apenas que viaja sozinho, desde que perdeu seus companheiros. Ele gostava especialmente do pequeno Lépton, que corria alegremente em torno dele. Bárion foi arrancado de uma comunidade que cresceu além do que ela própria poderia suportar, e foi expulso, sem destino certo. Nem o seu fiel companheiro Férmion o protegeu na hora da expulsão. Isso que eles mantinham uma relação realmente íntima.
O solitário Bárion vaga pela pequena eternidade que teve algum início, sem consciência de que sua vida terá um fim, próximo ou distante. É a lei natural das coisas. Antes a situação estava muito mais estável. Essa estabilidade durou mais do que a memória de Bárion poderia recordar. Ele desconfiava de que fora expulso por se manter neutro. Lá não havia mais lugar para quem ficava sobre o muro. O mundo estava em convulsão, e apenas os que tomavam algum partido eram mantidos nas comunidades. Havia forte coesão entre eles. Originado da família Hádron, Bárion tem parentes nada neutros.
O que Bárion não imagina é que ele mudará o curso da história. Logo ele, o solitário viajante errante, ao qual ninguém atribuiu valor. Por vezes é assim mesmo, alguém que aparentemente está apenas de passagem acaba criando uma revolução. Bárion estaria apenas de passagem, em outros tempos. Porém, algum evento dramático colocou outra comunidade no seu caminho. Com todo esse espaço vazio, quiseram o destino e a intervenção humana que o improvável acontecesse. Bárion entra com tudo, no meio daquela comunidade, sem pedir licença nem receber permissão. Não passa despercebido. A comunidade se agita, incomodada pela presença imprevista e indesejada do Bárion. Urânia nunca mais será a mesma, após a chegada dele. Em pouco tempo aquela até então estável comunidade divide-se em duas: Kriptônia e Bária - talvez assim batizada em homenagem ao provocador de toda essa revolução.
Além de dividir Urânia, Bárion consegue arregimentar dois seguidores, também Hádrons, como ele próprio. Expulso novamente, Bárion segue sua trajetória solitária. Assim fazem seus novos seguidores, um em cada direção. Novamente acontece o improvável. Aproximadas pelo evento violento, novas comunidades se põem na trajetória involuntária de Bárion e seus novos seguidores. Cada um divide novas sociedades e arregimenta dois novos seguidores, multiplicando o processo. A divisão das comunidades produz muito calor.
São 8h15m43s do dia 6 de agosto de 1945. Bárion, um nêutron, viaja de um átomo de Urânio 235, fissionado em átomos de Kritônio 92 e Bário 141, Devido à massa crítica obtida pela aproximação de duas cargas de U235, no interior da bomba atômica Little Boy, Bárion encontrará outros átomos pelo caminho, provocando novas fissões, que liberarão outros nêutrons como ele próprio, dando seguimento à reação em cadeia, gerando uma imensa quantidade de calor que pulverizará a cidade japonesa de Hiroshima.
Imitando o mundo das partículas, também há Bárions nas comunidades humanas, como os nêutrons térmicos da fissão nuclear. Chegam nas comunidades, como quem não quer nada. Parecem neutros. Inserem-se no núcleo social das comunidades e desestabilizam-nas, provocando a fissão social. Dividem a comunidade em partidos, mandando afiliados dividirem outras comunidades, numa reação em cadeia que não deixa nada de pé.
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