26.3.08

A santidade presumida


Foto: www.camara.gov.br

A santidade presumida

Por Paulo Heuser


Tenho ouvido com certa freqüência comentários sobre a avidez dos empresários pelo lucro. Há quem reclame deles por só pensarem nisso. Ora, se o desempenho das empresas é medido pelo balanço, e o desempenho dos executivos é medido pelo resultado da empresa, é de se esperar que eles corram como desesperados atrás dos lucros. De outra forma, poderíamos taxá-los de incompetentes, coisa que os acionistas não perdoariam. São as regras do jogo em curso.


Há duas instituições que podem limitar os ganhos das empresas. Uma é o estado, através de legislação reguladora e da política fiscal. Outra é o mercado. Se os consumidores acreditarem que os preços são exagerados, deixarão de consumir o produto, desde que este não esteja inserido em algum esquema monopolista ou oligopolista. Esta é a teoria. Na prática as coisas não são tão bonitinhas, pois o estado é regulado pelas leis que são feitas pelos representantes dos segmentos que têm interesses, digamos assim. A política fiscal, por outro lado, deixa de fora quem realmente deveria pagar os impostos. E, finalmente, os monopólios e oligopólios estão aí, em todas as áreas. O sabão Cracrá sabor cheddar é fabricado pela mesma empresa que fabrica o queijo processado Crocró sabor coco e o creme dental Crecré sabor glicerina. A matéria prima é a mesma, mudam a embalagem e o sabor. Tudo bem regulamentado e fiscalizado, hipoteticamente.


O que causa mais espanto é o pessoal que reclama da avidez dos políticos por dinheiro. A única diferença entre os empresários e os políticos é a da santidade presumida dos últimos. Muitos são empresários, bem sucedidos ou não, que abandonam sua vida privada para sacrificarem-se na vida pública, em troca da satisfação que sentem em ajudar o próximo.


Há duas instituições que limitam seus ganhos. Uma é o estado, através de legislação reguladora e da política fiscal. Outra é o mercado. Se os consumidores (eleitores) acreditarem que os preços (ganhos) são exagerados, deixarão de consumir (votar) o produto (candidato), desde que este não esteja inserido em algum esquema monopolista ou oligopolista (alianças partidárias). Esta é a teoria. Na prática as coisas não são tão bonitinhas, pois o estado é regulado pelas leis que são feitas pelos próprios políticos, que têm interesses, digamos assim. A política fiscal, novamente, deixa de fora quem realmente deveria pagar os impostos. E, finalmente, os monopólios e oligopólios estão aí, em todas as áreas. O candidato Cracrá do PATO é apoiado pelo candidato Crocró do PILA, que também apóia o candidato Crecré do PECO. A matéria prima é a mesma, mudam a embalagem e o sabor. Tudo bem regulamentado e fiscalizado, hipoteticamente.


No final de contas, o mercado vota no que ganha mais. Afinal, reclamam do quê?



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