474 - A torta de morangos
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A torta de morangos
Por Paulo Heuser
Parei de fumar faz uns 12 anos, talvez mais. Nos primeiros anos se contam horas, dias, semanas, meses e anos. Depois dos dez, se perde a conta. O gosto do último cigarro permanece na lembrança, mas a data se vai. O fumante de hoje, ou é um destemido, ou é um europeu. Os d’além mar ignoram toda e qualquer associação do fumo com as doenças relacionadas a ele. Tem-se a impressão de que os bebês já nascem fumando na Espanha. O cigarro é o companheiro inseparável dos espanhóis, desde antes do café da manhã. Eles fumam dormindo.
Algo que causa espanto é a proibição do fumo nos pubs ingleses. Os ilhéus adoram aquela atmosfera de fumaça de cigarros com cerveja ale morna. Eles são obrigados a fumar na rua, o que pode esfriar a cerveja. Pior do que cerveja ale fria, só mesmo a cerveja ale com espuma - Argh! O clima lá não ajuda em nada. Fica difícil fumar no frio.
Os chineses salvaram os ingleses. A colônia salva o dominador. Bem, parece mais um tipo de vingança, mas vá lá, que seja uma salvação. Os chineses inventaram o cigarro eletrônico, uma maravilha tecnológica que permite aos ingleses fumarem em locais fechados sem serem sentenciados à Torre de Londres. Essa é a parte boa. Se há uma ruim, não sei, porém não há como não ficarem preocupados com o uso do tal do cigarro chinês. O kit básico do cigarro eletrônico traz duas baterias recarregáveis, um cabo de alimentação, um carregador de baterias e cinco cartuchos de nicotina, além do próprio cigarro, é claro. Tudo isso por apenas 340 reais. Barbadinha entregue em casa. O kit dá outro prazer ao ato de fumar. Basta carregar as baterias, montá-las no chassi do cigarro, colocar o cartucho de nicotina e, bang, fumar. A parafernália elétrica dá cargas de nicotina à vitima, digo, ao fumante, sem poluir o ambiente. O chupador eletrônico de nicotina não precisa mais refugiar-se nos fumódromos dos aeroportos. O de Barajas, em Madri, dá dó. Agora, graças aos fabulosos cigarros eletrônicos chineses, os fumantes podem desfilar por todo aeroporto, sem serem presos, enquanto chupam suas canetas bic cibernéticas. Uma maravilha. Os fumantes reinserem-se no convívio social.
Hoje, em meio a toda essa onda de simulacros de produtos, como a margarina sabor manteiga, o cigarro sabor sabe-se lá do que, e tantas outras coisas, tive uma enorme surpresa. Bandeei-me na direção do Triunfo. Caí numa churrascaria que servia carne sabor carne e polenta sabor polenta. Tudo muito bom. Havia uma salada de um feijão olho de cabra que causou espanto. O tal do feijão apresenta grãos que lembram azeitonas pretas. Entre as sobremesas havia uma torta de morangos, nata e merengue que convidava à repetição.
A menina que servia bebidas às mesas deve ter notado nossa satisfação ao provarmos da torta. Parou ao lado da nossa mesa e nos perguntou, meio tímida:
- Vocês gostaram da torta?
- Adoramos! – respondemos.
- Eu fiz essa torta... – disse ela, constrangida.
Que dia! Provei da torta feita por alguém, em carne e osso. Uma pessoa fez aquela torta!
Marcadores: China, cigarro eletrônico, torta de morangos, Triunfo
1 Comments:
Examinem vossas consciências antes de afirmarem tal ou qual coisa a respeito de um produto, principalmente quando este produto possa causar danos à saúde. Ganhar dinheiro, lucrar, é sempre bom – com responsabilidade. Cuidado em vossas afirmações!
Amar ao próximo equivale valorizar não apenas vossos filhos, pais ou entes queridos – isto está longe de ser amor, mas egoísmo. Peço-lhes apenas atenção em vossos comentários não somente neste caso do cigarro eletrônico, mas, em tudo aquilo que possa dirigir-se a outrem.
Desejo sinceramente que tal produto ajude às pessoas pararem de fumar, mas não reconheço até então casos comprovados, desconheço a eficácia do produto. No entanto não quer dizer que não funcione. Minha opinião é nula neste caso. Lembro-lhes, vocês que não fumam, que adquirir o hábito de fumar 'eletronicamente' poderá levá-los ao hábito convencional =D
Peço apenas a atenção quanto às afirmações que temos feito a respeito deste e muitos outros produtos, bem como serviços e outras coisas, apenas visando lucro, sem considerarmos uma solução que mudaria o mundo – ‘Amai uns aos outros sem esperar nada em troca’...
Pensem nisto!
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