10.1.07

Batalha da Riachuelo

Batalha da Riachuelo

Por Paulo Heuser

O Rio Riachuelo é um afluente do Rio Paraguai, na Província de Corrientes, Argentina. Em 11 de junho de 1865, no início da manhã, aquele rio foi palco da Batalha Naval do Riachuelo, entre as esquadras da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai) e do Paraguai. O Paraguai não contava com um acesso direto ao mar, controlado pela Argentina e pelo Uruguai. Após invadir Mato Grosso, Rio Grande do Sul (de São Borja até Uruguaiana) e terras Argentinas, o Paraguai tentou conquistar a saída ao mar, através dos rios. Para tanto, deveriam destruir a esquadra brasileira, composta de nove navios, que defendia o rio em território argentino. O Comodoro Pedro Ignácio Mesa, do Paraguai, comandou a esquadra atacante, composta de sete navios. A tática do comandante paraguaio era atacar a esquadra brasileira, comandada pelo Almirante Francisco Manuel Barroso, durante a madrugada, surpreendendo-a em meio ao nevoeiro. Um dos navios paraguaios sofreu um problema mecânico, atrasando o ataque, que ocorreu às 9 horas. Perdeu-se o fator surpresa, portanto. Isto vem provar que os defeitos nos produtos dos camelôs são coisa antiga. E que não só os brasileiros costumam se atrasar. Enfim, a esquadra brasileira saiu vitoriosa, selando o destino do Paraguai na Guerra da Tríplice Aliança (1864-1865).

Comecei a pensar nisto quando dobrei na Praça Conde de Porto Alegre, na direção da Rua Riachuelo, afluente da Rua Doutor Flores. Ali, trava-se a Batalha Viária da Riachuelo, todos os dias, no início da manhã. É interessante observar que Manuel Marques de Souza III (1804-1875), o Conde de Porto Alegre, comandou as tropas brasileiras que derrotaram as tropas paraguaias, em Uruguaiana. A Batalha da Riachuelo tem algo em comum com a Batalha do Riachuelo. É o comércio. Os paraguaios queriam acesso ao mar, para ter acesso aos mercados do Atlântico. Na Riachuelo, os entregadores de mercadorias são personagens da batalha travada com os que utilizam a rua como meio de acesso ao centro. Ao ingressar na Riachuelo, já podemos divisar, quando não há nevoeiro, a esquadra inimiga, composta de caminhões e peruas de entregas. Para melhor defender a rua, eles atracam nas margens onde estão as placas com um “E” cortado por traços, que indicam a proibição de atracar ou fundear. A praia preferida é aquela que se localiza entre os afluentes Vigário José Ignácio e Marechal Floriano Peixoto, este também um personagem da Guerra do Paraguai. Hoje se encontram típicos produtos paraguaios nesses importantes afluentes da Riachuelo.

Ao contrário da Batalha do Riachuelo, a da Riachuelo não termina. Repete-se todas manhãs, com folga aos domingos, quando os que utilizam o rio como via de transporte, somem. Os navios que entregam bebidas na Riachuelo têm portas de acesso à carga nos dois costados. Curiosamente, e contra qualquer estudo estatístico, a carga sempre é retirada pelo bombordo, lado contrário à margem da Riachuelo, que fica a boreste. Algo semelhante a descarregar os navios pelo lado contrário ao cais, em plena água.

O movimento de cargas na Riachuelo, pela manhã, só tem comparação com o movimento do Porto de Rotterdam, na Holanda, o maior porto do mundo. Portanto, a Riachuelo dever ser o segundo maior porto de cargas do mundo. Pena que o tráfego dos navios não seja tão bem organizado, na Riachuelo, como o é em Rotterdam, onde só se pode atracar em locais e horários pré-estabelecidos.

O Comodoro Mesa nunca conseguiria tomar a Riachuelo de assalto, seja com nevoeiro, seja num dia limpo. Como falhou no Riachuelo, falharia na Riachuelo. Isto que o Almirante Barroso anda lá pelos lados da Floresta.

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