O décimo terceiro
O décimo terceiro
Por Paulo Heuser
O décimo terceiro chegou. Já foi motivo de preocupação, por parte dos agourentos. A origem da má fama do número 13 tem diversas explicações. Alguns explicam que Judas seria o décimo terceiro à mesa. Da traição resultaria a má fama do número 13. Tanto que os edifícios não têm décimo terceiro andar, em muitos países.
Por Paulo Heuser
O décimo terceiro chegou. Já foi motivo de preocupação, por parte dos agourentos. A origem da má fama do número 13 tem diversas explicações. Alguns explicam que Judas seria o décimo terceiro à mesa. Da traição resultaria a má fama do número 13. Tanto que os edifícios não têm décimo terceiro andar, em muitos países.
Agatha Christie (1890-1976) escreveu um livro, em 1933, intitulado Treze à Mesa – Lord Edgware Dies -, na versão em língua portuguesa. Há uma explicação para a má fama do numero 13, que considero mais interessante, pelo menos historicamente. O Rei Felipe IV, o Belo (1268-1314), da França, também foi conhecido como Rei de Ferro, devido ao seu empreendedorismo bélico. Ele nasceu e governou na linda Fontainebleu, na região de Seine-et-Marne, a sudoeste de Paris, onde os jardins do palácio estendem-se aos bosques que cercam a pequena cidade. A beleza de Fontainebleau não passou despercebida aos olhos das tropas de ocupação nazistas, durante a Segunda Guerra, nem ao General George Patton, após a libertação. Eles instalaram seus quartéis-generais no Castelo de Fontainebleu.
Mal de caixa, devido às despesas bélicas nas rusgas com os vizinhos flamengos de Flandres, Felipe expulsou os judeus da França, em 1306, para tomar os seus bens. Como o dinheiro mostrou-se insuficiente, coisa aparentemente comum a qualquer governo, Felipe meteu a mão no bolso da Igreja, sendo ameaçado de excomunhão pelo Papa Bonifácio VIII. A relação de Felipe com a Igreja foi muito tumultuada, na base da bula para cá, bula para lá. Em 13 de outubro de 1307, sexta-feira, Felipe mandou prender os confrades de uma entidade ligada à Igreja, a Ordem dos Cavaleiros Templários. Após uma longa CPI, a ordem foi considerada extinta, perdendo seu status eclesiástico. Seus membros foram supliciados. Aí, algo de novo, apesar de velho. Hoje em dia, apenas renunciam, para depois voltarem.
Ignorantes de tudo isso, Jandercleison e Paggysue festejaram a chegada do décimo terceiro salário. Esse 13 não faz mal a ninguém. Fizeram planos, pensando no futuro. Neste ano limpariam o nome na praça. Pegariam a grana e poriam em dia o pagamento daquela prestação atrasada. Orgulhosos, entraram na loja e dirigiram-se ao setor de recuperação de crédito. Não fora uma boa idéia a compra daquela câmera digital que vinha com alguns brindes, como uma lavadora de roupas e o cortador de grama a gasolina. As 99 prestações explodiram o orçamento e eles acabaram no SPC.
Já na entrada, sorridentes recepcionistas os esperavam. Ofereciam o cartão de crédito que os levaria a realizarem todos seus sonhos, imagináveis ou não. Resistiram bravamente. A alegação de que estavam com o nome sujo na praça não foi suficiente para que as moças desistissem. Aquela loja não se importava com o cadastro. A satisfação do cliente – e do dono – estaria acima de tudo. Como continuaram recusando, foram-lhes exibidas línguas de sogra e caretas de desprezo. Conseguiram adentrar loja, para cair nas garras dos promotores da câmera digital que vinha com alguns brindes, como uma lavadora de roupas e o cortador de grama a gasolina.
– Mas, eu já tenho uma! – tentou argumentar Jandercleison.
– Exatamente! – gritou a vendedora – O senhor tem, mas sua mãe não tem!
Conseguiram desvencilhar-se, novamente, avançando com dificuldade em direção ao elevador. Foi difícil caminhar com duas promotoras agarradas aos pés. O sistema de marketing interno da loja detectou a presença do celular de cartão do Jandercleison e passou a chamar a cobrar para oferecerem a nova câmera digital câmera digital que vinha com alguns brindes, como uma lavadora de roupas e o cortador de grama a gasolina.
O alívio que sentiram quando a porta do elevador se fechou durou pouco. A ascensorista não era apenas uma ascensorista. Era uma promotora vertical de vendas da câmera digital que vinha com alguns brindes, como uma lavadora de roupas e o cortador de grama a gasolina. Os quatro andares pareceram quatrocentos. Porém, eles mantiveram-se irredutíveis. Lutaram bravamente para deixar o elevador, chegando ao andar do crediário. Peggysue logo foi cercada pelos clones do Brad Pit e do George Clooney, que a levaram para o setor de cosméticos, ao lado do crediário. Ela ganhou uma massagem facial grátis. Jandercleison foi levado pelos clones da Bridget Moynahan e da Milla Jovovich para o coquetel promocional da loja, na sala ao lado. Encontraram-se novamente, após uma hora e meia.
- Você conseguiu liquidar a dívida, bem? – perguntou Peggysue.
- Não foi prexijo! – respondeu-lhe Jandercleison, com a voz etilicamente pastosa.
- Como? Por quê?
- Elax me moxtraram que eu ainda podia aumentar a dívida pagando o mexmo por mêx. Xó aumentaram um pouco o prajo.
- Quanto?
- Xó maix 99 mejex!
- Para quê?
- Ora, mulher, parexe boba! Comprei um criado-mudo que fala e vem com algunx brindex, como a câmera digital, a lavadora de roupax e o cortador de grama a gajolina.
- Mas, nós ficaremos pagando por quase vinte anos!
- Vamox nada, bem. Elax me dixeram que o gelo do Ártico vai derreter, a Amajônia vai xecar e tudo aqui vai inundar, bem antex do prajo venxer!
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