390 - Sobe!
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Sobe!
Por Paulo Heuser
O Zé chegava em casa, no típico fim de dia. Desviou dos cocôs de cachorro, no passeio, sorriu para o porteiro, verificou a caixa de correio e entrou no elevador. Quando pressionou o botão do quinto andar, a luz acendeu, e logo apagou. - Droga de elevador - pensou ele. Nova tentativa, mesmo resultado. A luz vermelha acendia, para apagar em seguida. Praguejando, ele insistiu. Ficou apertando o botão, até que o elevador entendeu sua intenção de subir. Com a luz do botão apagada, que fosse. O elevador finalmente se moveu. Cinco andares não era muito. Zé acompanhou indiferente a mudança dos números no indicador do andar. Dois, três, quatro, seis... Naquele catatonismo pós-expediente, ele não percebeu imediatamente a ausência do cinco. Percebeu que algo não estava certo quando o indicador virou no dez. Havia apenas nove andares no prédio. – Droga de manutenção! – exclamou. Quando o mostrador indicou a passagem do nonagésimo nono andar, a luz vermelha do alarme de perigo acendeu na cabeça do Zé. Pensando melhor, não era apenas o indicador que parecia errado, pois o tempo de percurso estava anormalmente longo. Aqueles segundos, ele não sabia exatamente quantos, transformavam-se em longos minutos, sem perspectiva de um fim próximo.
Zé tentou ligar para o porteiro, a partir do celular. Recebeu um indicativo de ausência de sinal, enquanto o mostrador indicava que haviam ultrapassado o nongentésimo andar. Resignado, ele pressionou o botão de alarme. Ouviu apenas o som de uma sirene muito distante, que se afastava cada vez mais. O mostrador passou a exibir 1k, quando passaram pelo nongentésimo nonagésimo nono andar. – Finalmente parou – pensou ele, pois os números indicados pararam de crescer. Aquele 1k ficou estático. Por algum tempo, até que mudou para 1,1k. Não havia parado. Apenas mudou a escala, medindo de mil em mil andares. Zé dormiu encolhido no canto do elevador, tiritando de frio.
O mostrador não indicava andar nenhum, quando a porta do elevador se abriu. – Consertaram esta droga! – pensou Zé, enquanto tentava adaptar os olhos àquela luz muito intensa, do lado de fora, onde um dos vultos dizia:
- Outro, chegou outro!
- Como é que este veio? – perguntou o segundo vulto ao primeiro.
- De elevador...
- De elevador? Mas, como?
- Deu problema no quinto andar e alguém se esqueceu de tirar a ponte. Veio direto.
- Menos mal, há como mandá-lo de volta. Ainda bem que este não veio de balões de aniversário!
- Desce!
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