6.11.08

487 - Hermético


Foto: Juliana Heuser
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Hermético!

Por Paulo Heuser


Esses supermercados de shopping são interessantes. Fui comprar não me recordo o quê e aproveitei para comprar pão. O pessoal de O&M do supermercado inovou. Em vez de privilegiarem o atendimento dos que levam poucos itens na cesta, criaram um sistema de atendimento que sumiu com as filas dos caixas que atendem grandes ranchos. Como eu levava o pão, entrei na imensa fila do pronto-atendimento.

Filas de supermercado compõem um universo mercadológico à parte. As filas existem para que possamos escolher mais alguns produtos expostos naquelas prateleiras que formam o brete, como os chicletes, os chocolates e os CDs de música relaxante do monge zen Ryotan Tokuda. Por que não expõem nabos e rabanetes naquelas prateleiras? Ou, quem sabe, desentupidores de vasos sanitários?

A fila até que andava, não o nego. Enquanto eu examinava a lista de músicas da obra do Tokuda, algo me chamou a atenção. Aliás, do shopping inteiro. Havia um sujeito, lá pela 23ª posição da fila, que atendeu ao telefone móvel.

- Alô! Sim, sou eu mesmo!

Duas coisas sobressaíam: o volume da voz do sujeito e o forte sotaque daqueles que habitam as regiões situadas entre o norte do Trópico de Capricórnio e o Equador. O homem não precisava do telefone. Ele gritava tanto que poderiam ouvi-lo em Sertãozinho do Xurubica, mesmo sem o aparelho.

- Cheguei, cheguei! Estou em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul!

- Ainda é no Brasil, quase fora, mas ainda é Brasil!

- Olhe só, os gaúchos até parecem gente... É, não dá nem para se notar muita diferença. Só quando eles abrem a boca! Aí, só vendo!

- Ainda não vi a cidade, só da janela do avião!

- Não dá para ver muito, pois o avião é hermético! É, é hermético!

- Não, não dá para abrir a janela, é hermético!

Aquele hermético soou mais hermético do que qualquer hermético que eu já ouvi. O que chamava a atenção era a pronúncia, com o i quase engolido. Ficava muito hermético, mesmo!

- Não, não dá nem para fumar lá dentro. É hermético!

- Comer, pode... Não, não dá para jogar os ossos pela janela! Eles nem servem carne com osso! É hermético! Eles descobriram galinha sem osso!

Naquele momento, percebi o quanto os gaúchos deixam para trás quando viajam de avião. O que fazer com os ossos da costela gorda, visto que não podemos jogá-los pela janela? Entendi também por que não servem cocos verdes a bordo. É hermético! Definitivamente hermético!


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1 Comments:

At sexta-feira, 07 novembro, 2008, Blogger José Elesbán said...

Rá, rá, rá,...
E ainda bem que os aviões são herméticos.
Já pensaste um vivente destes num daqueles modelos do aeroclube de Santa Cruz do Sul? Que riscos correríamos?

 

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