17.12.08

499,7 - Capilares termíticos

Foto: Wikipedia
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Capilares termíticos

Por Paulo Heuser

 

Ontem fui fazer uma fezinha na lotérica da chinesa que tenta desesperadamente me vender café expresso de máquina. Sempre lhe digo que comprarei toda a máquina, no dia em que ela me vender uma aposta premiada. Apesar de caminhar perdido nos meus pensamentos vagos e difusos lembrei-me de comprar um cupinicida ao passar por uma loja de ferragens que há no caminho.

Entrei na ferragem e fui prontamente atendido pelo rapaz sorridente, que vestia um imaculado jaleco branco. As lojas de ferragens do Centro são realmente diferentes daquelas dos bairros. Lá o pessoal se veste de maneira menos formal. Esse rapaz parecia polido ao extremo e penteara o cabelo em forma de crista de galo, com o auxilio de algum fixador poderoso. Resumindo, o rapaz não combinava com uma loja de ferragens. Ele parecia-se mais com um vendedor de óptica. Eu esqueci a aparência dele, por um instante, para pedir o cupinicida.

- Boa tarde! Vocês têm cupinicida?

- Cupi, o quê? – disse o engomado rapaz enquanto fazia um estranho trejeito que o afastava muito mais da imagem projetada por um balconista de loja de ferragens.

- Cu-pi-ni-ci-da. Veneno contra cupins.

- Cupiiins? – os is foram acompanhados de novo trejeito e da modulação da voz em agudo crescente.

- Sim, cupins, térmitas, isópteros, insetos eusociais...

- Que hórrooor! – o rapaz gritou enquanto dava dois passos atrás.

O rapaz engomado soltou um grito tão alto que outro vendedor veio acudi-lo. O companheiro de balcão do engomado também não se parecia com um balconista de loja de ferragens. Alto e extremamente magro, vestia uma túnica verde estilo Mao, abotoada até o gogó, e calças cor de laranja estilo Ali Babá. O gogó dele movia-se velozmente enquanto ele perguntava ao colega engomado o que havia acontecido.

- Ele quer veneeeeno!!! – gritou o engomado desesperado.

- Veneeeeno? – fez coro o horrorizado Ali Mao Babá verde-laranja.

Então, olhando melhor, eu percebi que aquela pilha de latas de tinta, na entrada da loja, não era exatamente uma pilha de latas de tinta. Percebi também que eu havia entrado numa loja que vendia produtos para cabeleireiros.

 

 

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1 Comments:

At sábado, 20 dezembro, 2008, Blogger José Elesbán said...

Puxa! Quanta fé na loteria, hein?

 

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