30.12.08

499,995 - Em busca de razões

Foto: Paulo Heuser
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Em busca de razões

Por Paulo Heuser


É Ano Novo, novamente. Coisa óbvia. Hora de fazer as enfadonhas retrospectivas. Fazendo um balanço, o 2008, este não foi grande coisa. Está certo, termina com manchetes de jornais sobre novas batalhas da eterna guerra. Israelenses bombardeiam palestinos, e estes jogam foguetes conta aqueles, e assim segue o pêndulo da guerra. Mais adiante, paquistaneses e indianos brandem suas armas nucleares, uns contra os outros.

A guerra intriga o homem normal, aquele que não está a soldo, pois parece ilógica àqueles que não vêem suas casas ameaçadas por inimigo próximo. As guerras em terras distantes parecem ainda mais estúpidas. O que mais me intriga, em algumas guerras, é por que povos que se parecem tanto entram em longos conflitos.

Brennero (Brenner) é uma pequena comuna italiana que fica ao lado do Passo del Brennero (Brennerpass), na região do Trentino-Alto Adige, estratégica passagem entre o Tirol austríaco e as Dolomitas italianas. Como o Passo del Brennero situa-se a apenas 1370 metros de altitude, bem mais baixo que as cadeias montanhosas que o cercam, tornou-se um dos pontos mais estratégicos da Europa, desde a Era do Bronze. Por lá passaram exércitos romanos, austro-húngaros, austríacos, prussianos, alemães e italianos. Hoje passam por lá em torno de dois milhões de caminhões por ano, pois Passo del Brennero é a ligação entre o norte da Europa e a Itália. Os ingleses, alemães e nórdicos que veraneiam nas praias do Mar Adriático passam por lá em todos os verões europeus, através da auto-estrada européia E45 – A13, na Áustria, A22, na Itália. O Passo faz a ligação entre Innsbruck e Bolzano (Bozen).

O que mais intriga em Brennero é como aquela população ordeira e pacífica se viu envolvida em guerras tão terríveis. Lá se travaram batalhas, homem a homem, árvore a árvore. Imagino aquelas senhoras simpáticas oferecendo chá ao inimigo, quando conseguiam identificá-lo. De tal vai e vêm, todos se pareceriam iguais. Homens tão iguais, de crenças tão iguais, de origens tão comuns, digladiaram-se durante anos. Sem uniformes, eles pareceriam irmãos. Hoje vivem em paz, mas há pouco mais de 60 anos se matavam uns aos outros.

Todos estavam a mando de alguém que auferiu algum lucro na história, mesmo que apenas o rótulo de carniceiro ou o de louco. O que dizer, então, dos povos dos Bálcãs? Como puderam protagonizar tal inimaginável selvageria?

A história não pára. A novela das oito está aí para prová-lo.


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