22.12.08

499,8 - Uma outra crônica de Natal

Foto: Paulo Heuser
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Outra crônica de Natal

Por Paulo Heuser

 

Eu não poderia deixar de escrever algo sobre o Natal. Não é a primeira vez que o faço. Portanto, devo evitar as eternas repetições. É óbvio que desejo um feliz Natal a todos, etc. Ainda mais eu, que vim de uma família que sempre cultuou o Natal. Herdamos a cultura dos nossos ancestrais que emigraram da Renânia e da Pomerânia, ambas no antigo Reino da Prússia. Deles herdamos o costume de enfeitar uma Árvore de Natal – Tannenbaum. Herdamos também o costume de montar o Presépio sob a árvore. Também não deixamos de preparar a bole, bebida feita a partir de frutas, vinho e espumante, de aparência inocente, própria para alegrar senhoras idosas incautas. A cultura do Natal nos é muito forte, desde os nossos obscuros ascendentes celtas, passando pelos católicos romanos até o Século XV, até os luteranos, a partir de então.

Confesso que não me encaixo muito bem no cenário moderno do Natal. O Natal de hoje é um espetáculo de vendas que inicia em janeiro e termina em dezembro, para recomeçar em janeiro, bem entendido. Graças à tecnologia, os pinheiros naturais vêm sendo poupados, dando lugar aos modernos Tannen-e-baum – árvores eletrônicas artificiais que dançam e tocam, da rumba à lambada tecno. O Natal daqui é algo semelhante ao Carnaval de lá. Há Carnaval de Páscoa, Carnaval de Natal, Carnaval de Finados e, até, Carnaval de Carnaval. O importante tornou-se a venda, seja lá do que for. Cheguei a acreditar no Papai Noel, confesso. Só vim descobrir que ele era produto da Coca-Cola – marca registrada – depois de muitos anos. Quem bolou aquela campanha deveria receber o Nobel Vitalício de Marketing.

O que somente confessei à analista, até agora, é que não fui às compras no novo shopping. Creio que ela não acreditou, apenas fingiu. Pior, não fui aos novos cinemas, com poltronas revestidas de couro, onde servem baldes de pipocas do tamanho de uma betoneira. Assim, perdi a pré-estréia do filme Rudolf II – a Vingança da Rena Assassina do Nariz de Sangue. Não ir ao novo shopping é como deixar de fumar. Os três primeiros dias são os piores. Depois, é só administrar a vitória diária. Olho-me no espelho e digo, convicto, que não irei ao shopping hoje. Hoje, não falo do amanhã, pois este ainda não chegou. Chegará manhã. Então, será hoje.

Até quando resistirei, não sei. Porém, sentir-me-ei seguro enquanto me lembrar do cheiro verde do Tannenaum montado na sala de estar da casa da família.

 

 

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