26.12.07

O ciclo da vida

Foto: Paulo Heuser
O ciclo da vida

Por Paulo Heuser


Passado mais um Natal, aproxima-se celeremente o Ano Novo. Henri Poincaré e Albert Einstein fritaram neurônios, concluindo que o tempo passa de forma diferente conforme a posição e a velocidade do observador. O tempo passa mais lentamente para quem está em maior velocidade em relação ao observador imóvel ou viajando em menor velocidade. O fenômeno passa a ser bem perceptível a partir de uma velocidade de dois terços da velocidade da luz. Nada que possa atrapalhar quem anda na freeway ou nas nossas ruas. Toda essa teoria está bem embasada, matematicamente, e provada experimentalmente, apesar das constantes tentativas de derrubá-la.

Todos já fomos crianças. Se não fomos, somos. A chegada do mês de dezembro altera de forma importante a vida das crianças. Vai-se a escola e aproxima-se o Natal. Dane-se o Ano Novo, o importante é o Natal. Por uma razão qualquer, que nem Poincaré nem Einstein conseguiram explicar, o tempo passa de forma diferente para as crianças. Pode ter algo a ver com o fato de elas estarem permanentemente em movimento, em alta velocidade. O tempo se arrasta quando esperam por algo e acelera violentamente quando estão a fazer algo que lhes agrada. O mês de dezembro não passa, pelo menos para as crianças afortunadas. Para as outras, tanto faz, pois o Natal é um dia como qualquer outro. Aquelas que terão um Natal com festa e presentes ficam na expectativa da chegada do dia. A situação piora quando entram em férias escolares, pois passam o dia contando cada segundo. O Tempo Atômico Internacional definiu um segundo como sendo nove bilhões e uns cacarecos vezes o período da luz emitida pelo isótopo 133 do Césio, no nível fundamental, passando do nível hiperfino F=4 para F=3, dado pela média de diversos relógios atômicos. Coisa simples, portanto. Porém, não há relógio atômico que meça a elasticidade temporal percebida pelas crianças. O isótopo 133 do Césio parece decair mais lentamente, cada vez mais lentamente, tendendo à aparente estabilidade quando a data tende ao dia 24 de dezembro. Aí pelo final da tarde desse dia o segundo parece alongar-se indefinidamente, como se o ponteiro fosse colado com chiclete ao mostrador. Matematicamente, Poincaré escreveria que o limite da duração do segundo, quando a hora tende ao momento da abertura dos presentes, é mais infinito. O tique-taque do relógio torna-se pastoso, com um tique aqui, um taque lá adiante, muito adiante, após o horizonte. Tudo parece voltar ao normal quando se abrem os presentes. Os tiques e os taques unem-se novamente e retornam à sua marcha inexorável em direção ao próximo dezembro.

O isótopo 133 do Césio se comporta de forma bem diferente para quem já deixou de ser criança. Mal deixamos de ver Papais-Noéis pendurados por todo o lado, já surgem os próximos, do próximo Natal. Quando o som de Jingle Bells começa a se desvanecer, volta com tudo, enchendo o ar com variantes nos mais diversos e impensáveis ritmos. Os adultos descobrem que já é Natal, novamente. Poincaré escreveria que o limite da duração do segundo, quando a hora tende ao momento da abertura dos presentes, é zero. Parece que o ponteiro dos segundos gira loucamente. Para os adultos a passagem do Natal anuncia a aproximação do Ano Novo, hora de purgar o passado e apostar tudo no futuro. Dia da remissão, das promessas e das esperanças. Afinal, no próximo ano tudo será diferente. Depois vem o Carnaval, e assim por diante, cada vez mais rápido. Fecha-se o ciclo da vida.

O que fazer? Ora, comemorar. Rápido, pois o próximo Natal já se avizinha.


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1 Comments:

At domingo, 30 dezembro, 2007, Anonymous Anônimo said...

Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.

 

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