23.5.08

403 - O vazio de Roswell

.
Foto: Wikipedia
.
O vazio de Roswell

Por Paulo Heuser


A cidade de Roswell, no estado norte-americano do Novo México, é uma espécie de Meca daqueles que adoram os OVNIs – objetos voadores não identificados. Lá teria ocorrido a queda de uma espaçonave alienígena, em 07 de julho de 1947, acidente supostamente encoberto pelas autoridades daquele país. Seja como for, Roswell encontrou vocação no turismo, negócio infinitamente melhor do que o garimpo ou a criação de cactus. Até hoje, mais de 60 anos após o evento Roswell, ainda há muita gente revirando seixos em meio ao deserto, à procura de evidências que comprovem a ocorrência do evento. O comércio local fatura vendendo lembranças do evento de 1947. O cinema tem voltado suas atenções a Roswell, periodicamente, rodando filmes do gênero teoria da conspiração. Esta ficou para trás, aqui, faz muito tempo. Hoje somos peritos na prática da conspiração.

Adoro os antigos filmes B de ficção científica, porém não creio muito em discos voadores nos visitando. Para não dizer que não creio mesmo. Contudo, respeito que neles crê. Existindo ou não, o fato é que nesta última quinta-feira, feriado, eu descobri o que provavelmente aconteceu em Roswell. Tudo começou quando resolvi assar um churrasco. Carnes de churrasco, para mim, são a costela e o vazio. A costela andou sumida, desossada e transformada em produto das elites. Renegaram a lagosta, em favor da costela.

Eu comprei uma peça de vazio embalada a vácuo. Olhando por fora, tinha boa aparência. Ao abrir o invólucro, logo percebi por que chamam aquela peça de fralda, ou fraldinha. O que havia lá dentro era surpresa, como ocorre com as fraldas literais, cujos recheios podem assustar. Determinado a transformar aquilo em um pedaço de carne espetável, pus mãos a obra. Escolhi uma faca boa, afiei-a e comecei a cortar, esticar, arrancar e desdobrar. Foi então que me lembrei do Seu José, que mantinha o açougue mais asséptico do mundo, nos altos da Barão do Cotegipe. A primeira impressão era a de que ele não vendia carne. Não havia carne exposta, nem no balcão frigorífico. Tudo ficava armazenado dentro da câmara frigorífica. Tampouco o Seu José mostrava o pedaço ao freguês, antes de fechar negócio. Ele ouvia o pedido, entrava na câmara frigorífica e saía de lá com a peça de carne solicitada, no peso correto, + ou - 0,1%. A diferença entre o Seu José e um cirurgião era a precisão no corte. Muitos tentaram alcançar aquela do Seu José e não conseguiram. Acabaram como cirurgiões plásticos ou coisa que o valha.

Eu nunca tive a pretensão de dar cortes com a precisão do Seu José. Contudo, o que sobrou de útil depois da despelanquisação que procedi naquele vazio, mal dava para preencher um pastel de carne, já considerado o espaço para o meio ovo e a azeitona. Restou uma pilha enorme de sebo, membranas e outras coisas que careciam de um estudo histológico mais profundo, para classificá-las. O churrasco não foi um fracasso total. Havia pão, salada e cebolas assadas no espeto.

Olhando para a pilha de coisas que derivaram do tal do vazio, me lembrei do filme que mostrava a suposta dissecação de um ET em Roswell. Aquilo não era ET coisa nenhuma! Era o cozinheiro limpando um vazio embalado a vácuo, para o churrasco de aniversário do comandante do 509º Grupo de Bombardeiros, sediado em Roswell.

Marcadores: , , , , , ,