21.5.08

401 - Monarquistas, pelo amor de Deus!


Foto: Wikipedia
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Monarquistas, pelo amor de Deus!

Por Paulo Heuser


Lembro-me do referendo que escolheu o regime do governo deste Brasil moderno. As opções não contemplaram o regime em vigor, a república federativa cpista, que surgiu espontaneamente. Este regime não foi inventado aqui. O cpismo democrático é uma evolução moderna do macartismo norte-americano do pós-guerra. Se lá cassavam comunistas, aqui se cassam todos, uns aos outros, como cachorros correndo atrás do rabo, nos intermináveis espetáculos teatrais televisionados ao vivo, desde que não interrompam a transmissão do futebol ou das novelas. Estas passaram a incorporar doses de cpismo, levando realidade à ficção. As novelas modernas não são novelas, são representações adaptativas da realidade cotidiana que não se furtam a tentar alterá-la. O que hoje está nas manchetes, amanhã estará nas novelas das oito, porque as das seis são de época, de outras épocas, nunca desta. O cpismo invadiu as novelas. Quem zapeia entre os canais, não sabe mais o que é ficção e o que é realidade. Os autômatos telespectadores apenas internalizam o conceito e são levados por horas a fio, a navegar pela conversa mole perene, com eventuais brigas, daqui ou dali. Tentei assistir a um capítulo desses, não sei mais se da realidade ou da ficção, onde um pivô de escândalo falou durante horas, sobre nada, enquanto os seus inquisidores gaguejavam frases aleatórias sem sentido. O título deste texto é uma corruptela do título da peça de teatro Anarquistas Graças a Deus, baseada no livro homônimo de Zélia Gattai. Assisti à paça lá pelo início dos 80. Coincidentemente, o ator principal era o Antônio Fagundes, o mesmo da atual novela das oito. Lá pelas tantas, o ator conclamava o público a gritar um refrão que dizia que o governo era aquilo (algo não publicável). A sensação de gritá-lo, sem ser preso, era ótima. A maioria começava com murmúrios tímidos, que logo davam lugar aos gritos, em uníssono. O ator brincava com a platéia dizendo que poderiam voltar nos dias seguintes, para desopilar novamente. O finado Teatro Presidente, depois transformado em templo, quase vinha abaixo. E ainda não havíamos degustado completamente a liberdade que nos trouxe esta maravilhosa república federativa cpista. Curiosamente, o País vive um dos melhores momentos econômicos, e por que não dizer sociais, pelos quais já passou. Temo exercer algum exercício de lógica sobre esta questão. Concluiria, talvez, que o cpismo retira, do dia a dia, os responsáveis pelo atravancamento do País. Entretidos nos seus jogos políticos, não conseguem puxar o freio de mão do País. Noutro dia assisti a uma comédia, estilo abobrinha, sobre um candidato ao governo norte-americano que sugeria que os postulantes aos cargos eletivos vestissem trajes com os logotipos dos seus patrocinadores, como fazem os atletas profissionais, notadamente os do automobilismo. O filme não é grande coisa, mas a idéia é excelente. É óbvio que nem todos os atores das CPIs são ruins, apenas por estarem lá. Seria o mesmo que dizer que todos os austríacos que têm porão em casa são monstros. Porém, todos os austríacos estão sendo julgados pela mídia. Criaram Hitler e o Fritzl. Os bons pagam pelos ruins, frase óbvia. A coisa explode quando não há porões, tudo é feito à luz do dia.

Este texto tem apenas dois parágrafos. Propositadamente, para que sua leitura seja pesada, como é o assunto. Sonho com um novo referendo, onde conste como opção a monarquia, além da república federativa cpista. A corte seria menor do que a de hoje, com certeza. Poderíamos gritar refrões contra o monarca. Hoje não sabemos mais contra quem gritamos, pois todos parecem iguais. Longa vida ao rei, desde que ele não crie CRIs – Comissões Reais de Inquérito!



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