29.10.07

Rigatoni e biocombustível


Foto: Paulo Heuser
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Rigatoni e biocombustível


Por Paulo Heuser



A edição de 20 de outubro de 2007 do periódico La Repubblica, da Itália, publicou entrevista com o empresário Guido Barilla, da empresa de mesmo nome, sobre os motivos da alta de preços das massas, que teriam subido 15% desde dezembro de 2006. Barilla menciona os dois maiores culpados: a mudança climática e o presidente George Bush, dos EUA. O empresário apontou o aumento do preço da sêmola, devido às quebras nas últimas duas safras, como um dos fatores para explicar o aumento do preço da massa. Outro fator seria a utilização dos grãos para produção de biocombustíveis, seguindo a política de incentivos do presidente norte-americano.

Encontrei citação à essa reportagem num sítio italiano chamado
ecoblog. Além de reproduzirem a entrevista com Guido Barilla, alinham a política de Bush, Lula e Massimo D’Alema, Ministro de Negócios Estrangeiros da Itália, em oposição às opiniões do empresário e de Fidel Castro, que condenam o uso de grãos para produzirem combustíveis. Depois de razões e contra-razões, o que me chamou a atenção, no blog, foi a foto que adornava o artigo. Uma maravilhosa foto de três pedaços de rigatoni, sobre fundo vermelho. A foto é de minha autoria. Eu havia postado aquela foto na minha página de compartilhamento de fotografias no Flickr , apenas 36 horas antes. Quem a copiou, incluiu os créditos, é verdade, porém a utilizou para fins comerciais, já que aquele blog está forrado com publicidade.

Já posso imaginar a confusão enfrentada pelos consumidores de combustíveis, no futuro. O sujeito chegará ao posto de serviços e poderá escolher entre muitos tipos diferentes. Haverá diesel alla matriciana, diesel ai funghi, para carros antigos e gasolina all’arrabbiata, para quem quiser um desempenho mais quente do motor. Para os mais ecológicos, diesel all pesto, opção de combustível verde. Não abrirão mão da gasolina di grano duro, para os carros manterem desempenho al dente. E o empurrol de aditivos também se adaptará aos novos tempos e aos novos combustíveis. Motores que utilizarem aditivo de parmigiano reggiano, rodarão mais, no caso dos combustíveis vermelhos. Para o diesel all pesto, será indicado um aditivo pecorino. Os óleos minerais e sintéticos estarão com os dias contados. Os motores que utilizarão os biocombustíveis di grano duro usarão azeite de oliva. Da cozinha ao motor, ou vice-versa. Carros sofisticados exigirão lubrificante virgem extra, de baixíssima acidez. Já os um ponto zero, poderão levar um semi-oliva, batizado com óleo de soja. A oferta de marcas de lubrificantes saltará, da atual meia-dúzia, para aquele monte de marcas que há nos supermercados, em garrafas ou latas. Haverá degustação de lubrificantes para motores.

Fiquei meio chateado, já que o blog italiano utilizou minha foto para fins diversos daqueles a que a página no
Flickr se destina. Por isso não fiquei nem um pouco constrangido, quando acrescentei um comentário naquela postagem do blog italiano. Não só Guido Barilla constatou que a massa dele subiu 15%. Eu também. Quando comprei os rigatoni para fazer a foto, concordei com Guido, pois achei os rigatoni Barilla muito caros. Conforme postei comentário no ecoblog, a marca daquela massa da foto não é Barilla, é Zara.


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