476 - Um mundo melhor
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Um mundo melhor
Por Paulo Heuser
Por que viajar? Por que conhecer outros lugares? Há um sem número de razões, com certeza. Alguns fogem de algo ou de alguém. Outros viajam porque fogem da rotina. Pode-se viajar também através das páginas de um bom livro. Por que não comprar o livro durante uma viagem? Ah, que saudade dos livros que eu lia na rede. Rede que balouçava entre árvores defronte a casa sem muros nem cercas. Os únicos invasores eventuais eram o vento e a chuva.
À pergunta sobre as razões que me levaram a viajar, respondo sem pestanejar: paz e segurança. Se eu não viajar a Bogotá, Caracas, Nova Orleans ou ao Rio de Janeiro, estarei mais seguro do que estou aqui. Isso torna muito fácil encontrar um destino mais seguro. Bagdá é um lugar a se considerar. Mais segura do que as anteriores, Bagdá apresenta muitas atrações, desde a tecelagem persa até a explosão da fila do pão. A sensação de caminhar sem preocupação extremada é impagável. Ver uma senhora idosa sacando dinheiro num caixa automático, em plena rua, durante a noite, é ainda mais impagável. Esquecemo-nos dessas coisas que deveriam parecer naturais.
Embarquei nesta viagem por acaso e não me arrependi. Há muito eu não experimentava sensações tão boas. No princípio permaneci cético, pois os anos de desconfiança remeteram-me à cautela. Senti-me como devem ter se sentido os habitantes das cidades européias no final das grandes guerras. Aos poucos saí à luz. Agora me deixo levar pela deliciosa sensação de andar à noite pela cidade limpa. Cruzo pelos passantes que me cumprimentam, apesar de não me conhecerem pessoalmente. É ótima a sensação de ser notado e poder notar os demais sem medo. Não se faz necessária muita cordialidade, basta o reconhecimento de que há outras pessoas. Adentro restaurante sob uma chuva de cumprimentos, não apenas dos garçons, mas também dos freqüentadores. Alguns até sorriem! O jardim do restaurante dá para a rua, sem cercas, sem telas e sem pedintes. Que mundo é este, que só agora reencontro? Eu vivi nele, faz muito. Porém faz tanto, que eu já havia me esquecido dele.
Atravesso a rua na faixa para pedestres, e os carros param! A noite vai, e os carros param no sinal, mesmo não havendo outros. Aliás, não há tantos carros assim, pois o pessoal volta para casa de metrô. O problema dessas viagens é que elas terminam, sejam curtas ou longas. Aproveito cada minuto desta viagem, enquanto não termina o horário de propaganda eleitoral gratuita. Quando ele terminar, eu voltarei ao miserável mundo real do hiato intereleitoral.
Marcadores: candidatos, eleições municipais, horário eleitoral, política, promessas, propaganda
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