18.8.08

445 - Quando vêm os bebês?



Foto: Wikipedia
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Quando vêm os bebês?

Por Paulo Heuser


A notícia que deu conta da ocorrência do último eclipse lunar do ano, me fez olhar para nossa parceira de translação pelo Universo. Em meio a tantas luzes, ela por vezes passa despercebida. Giramos de mãos gravitacionais dadas. Já estivemos lá, apesar de muita gente não saber disso, ou não acreditar nisso. Fala-se muito de uma grande fraude montada pela NASA, que teria feito um filme aqui na Terra, para depois passá-lo como cenas ao vivo, na Lua. Não acredito nessa história de filme, pois Charlton Heston não estava a bordo. Também não havia créditos no final. Se Hollywood houvesse produzido aquilo, não faltariam selenitas hostis - menos a filha do chefe, é claro, que manteria tórrido romance com o intrépido terráqueo. No final, fugiriam a bordo da nave capenga, enquanto toda população da Lua seria soterrada pelo desabamento. No final dos épicos, tudo desaba.

A Lua parece exercer grande influência sobre as pessoas. As grávidas esperam os bebês nas mudanças de fase da Lua, que, por sinal, estão sempre a ocorrer. Essa história rende polêmica eterna. Tanto rende, que o Dr. Fernando Lang da Silveira, professor de Física da UFRGS, realizou uma pesquisa sobre o assunto. Utilizando informações do banco de dados do vestibular, ele obteve mais de 90 mil datas de nascimento de candidatos inscritos nos concursos. Ele relacionou essas datas com as datas de mudança de fase da Lua, bem como com os três dias que antecederam ou seguiram a mudança. A estatística mostrou algo que contradiz a crença popular: não nascem mais crianças nas datas de mudanças da fase da Lua. As comadres e os compadres provavelmente alegarão que a amostra não é válida, pois foi realizada apenas sobre candidatos à elite intelectual do País, cujos pais já não seguiam a ordem natural das coisas. Forçavam os filhos a nascer em qualquer dia, sem nenhum regramento lunar.

Deus me livre de falar sobre a relação dos cabelos com a Lua! Aí sim, eu compraria uma briga feia. Qualquer idiota sabe que não se cortam os cabelos em determinadas datas, relacionadas às fases da Lua, sob pena de ficarmos irreversivelmente carecas. Bem, todos os idiotas sabem, menos um. Eu não sei. Começo a entender por que sempre consigo horário para cortar o cabelo, e por que a cabeleireira ri tanto, enquanto corta. Só não entendo por que ainda não fiquei careca. Fico a imaginar o que acontece com quem nasce, e corta o cabelo, fora das datas de mudança de fase da Lua.

A influência da Lua sobre as pessoas viria da atração gravitacional que ela exerce sobre nós. Afinal, ela é responsável pelas marés, que são resultado da aplicação da força gravitacional diferencial da Lua sobre nosso planeta. Seguindo o raciocínio, os homens têm de urinar em ângulo ligeiramente inferior, na Lua Nova e na Lua Cheia. Há o evidente risco de fazerem pipi na tampa do vaso, como conseqüência da - até então inominada - maré urinária.

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12.6.08

412 - Bebês e vovós



Foto: Wikipedia
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Bebês e vovós

Por Paulo Heuser


Que a educação anda em baixa, todo mundo sabe. Refiro-me à educação, aquela que se aprende em casa. Hoje confundem a educação com o ensino, aquele que deveria ser suprido pelo estado. As famílias tendem a entender que o estado deve educar seus filhos, enquanto o estado entende que as famílias devem instruí-los. Graças a isso, aqueles pequenos gestos de boas maneiras tendem a desaparecer. Cada vez menos gente cede seu lugar às mulheres ou às pessoas idosas, no transporte coletivo.

Em meio a essa falência comportamental, fui surpreendido pela prática adotada por um grande magazine âncora de shopping. Em todos os caixas, nos quais invariavelmente há filas, o atendimento prioritário é prestado aos idosos, às gestantes e às mulheres (homens?) com crianças de colo. Aí reside a novidade. Nas demais lojas, há apenas um ou dois caixas de atendimento prioritário. Naquela, são todos. Maravilha. As vovós e as mamães (papais?) não sofrem. Quem já ficou numa fila com uma criança no colo sabe do sofrimento que isto pode causar. A paciência deles é do tamanho da idade.

Entrei na fila do caixa, após escolher a mercadoria, e logo pude constatar que o esquema realmente funciona. Um jovem casal, acompanhado pela vovó, passou na minha frente. Justo e perfeito, pois o atendimento aos idosos deve ser preferencial. O apresentou terminal problema, obrigando-me a procurar outro caixa. Só havia uma pessoa na minha frente. Havia, pois chegou a moça com o carrinho de bebê. A operadora do caixa gentilmente explicou sobre a prioridade de quem se fazia acompanhado de criança de colo. A criança não estava no colo, mas tudo bem, pois efetivamente era uma criança de colo. Ser e estar, qual é a diferença, afinal? Minha vez seria a próxima. Seria, pois apareceu outra vovó. Regras são regras, justiça é justiça. Por isso, não reclamei quando apareceu outra criança de colo no carrinho, logo após a nova vovó. Paciência, quem mandou eu não ser ainda um ancião?

Da terra nascem as vovós, pelo menos naquela loja. Elas vinham de toda parte, do meio dos provadores, das araras, das prateleiras, do chão e do teto. Vi algumas saindo de um espelho! Alice envelheceu! Meu primeiro lugar na fila se transformou no segundo, eternamente. Só havia uma certeza. Se o próximo cliente não fosse uma vovó, seria um netinho dela, no carrinho de bebê. Pensei em protestar, mas soaria muito mal. Afinal, eu não era ancião, nem bebê de colo. Cheguei a desconfiar de que havia alguém alugando vovós e bebês, do lado de fora da loja, para quem quisesse atendimento preferencial.

Temi pelo fim da humanidade, pois havia nove vovós para cada netinho. Assim, não há pirâmide populacional que agüente. Lá pelas tantas, comecei a sentir vontade de ir ao toalete. Perguntei à operadora do caixa sobre a possibilidade de atendimento prioritário a quem estivesse apertado. Ela me disse que não. Perguntei-lhe sobre a prioridade de atendimento aos enfermos. Ela me respondeu que dependia da enfermidade. Comuniquei-lhe que eu molharia o chão da loja, caso não fosse atendido. Meio a contragosto, ela me atendeu entre duas vovós.

Quando sai do shopping, deparei-me com aqueles ônibus de excursão, fretados pela Sociedade das Damas da Terceira Idade de Trás do Cafundó. Vieram às compras.


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