30.7.08

434 - O espírito olímpico

Fonte: Wikipedia
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O espírito olímpico

Por Paulo Heuser


Não se fala de outra coisa. Os Jogos Olímpicos estão novamente aí, agora em Pequim. Teriam se originado na Grécia Antiga, em 776 a.C.. Daquelas competições entre helênicos, chegamos aos Jogos Olímpicos da Era Moderna, com uma série de alterações. Havia quatro Jogos Pan-Helênicos, os Olímpicos, os Píticos, os Nemeus e os Ístmicos. Intercalavam-se num calendário complexo, com os Jogos Olímpicos, ocorrendo de quatro em quatro anos, em Olímpia, cidade-estado de Elis, em homenagem a Zeus.

Os Jogos Olímpicos originais eram restritos aos helênicos, inclusive aos das colônias, como Rodes. As modalidades esportivas consideradas olímpicas eram poucas, quando comparadas com as 41 modalidades de hoje. Destacavam-se as lutas, saltos, corridas e modalidades de arremesso. Em alguns momentos do passado, os Jogos Olímpicos abrigaram modalidades estranhas, como o levantamento de peso com uma só mão. Somente eram permitidos os competidores do sexo masculino, nos jogos antigos. Mulheres, só na platéia. Sendo virgens, é claro.

Se por um lado eram jogos de pelados, já que competiam completamente nus, por outro lado eram jogos de abonados, pois todas as despesas, inclusive as de transporte e de hospedagem, eram suportadas pelos participantes. Pé rapado, nem na corrida. O amadorismo durou bastante, até o final do Século XX, quando os patrocinadores finalmente venceram, incluindo a participação dos atletas profissionais.

Os Jogos Olímpicos sofreram uma grande interrupção, entre 394 d.C. e 1896 - também d.C., é óbvio. Naquele ano, o imperador - convertido cristão - Teodósio I proibiu os jogos, pelo evidente paganismo incutido neles. Coube ao francês Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin, lutar pela criação dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Ele havia assistido à reedição dos Jogos Pan-Helênicos, promovida pelo milionário grego Evangelios Zapas, entre 1870 e 1889. Entusiasmou-se de tal forma, que conseguiu convencer o governo francês a patrocinar suas viagens em busca de apoio para a criação da versão atual dos jogos. Como os gregos interrompiam suas guerras para participarem dos jogos, Coubertin imaginou que os países modernos fariam o mesmo. Os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna aconteceram em Atenas, em 1896, com 285 atletas representando 13 países. As despesas com a organização foram pagas por Georgios Averoff, outro milionário grego. Protagonizando uma tragédia grega moderna, o Barão de Coubertin morreu pobre e doente, na Suíça, em 1937. Contrariando as idéias de Coubertin, e a prática dos gregos, os povos modernos interromperam os jogos para realizarem jogos de guerra.

O autor do mote Citius, Altius, Fortius – mais veloz, mais alto, mais forte – não foi nenhum grego, até porque está em latim. Quem o criou, foi o padre francês Henri Martin Dideon, diretor do Colégio Arcueil de Paris.

Espantosos são os custos dos Jogos Olímpicos Modernos. Os chineses esperam gastar – oficialmente - algo como 3,16 bilhões de reais na organização. Esperam, pois levantamentos externos indicam que gastarão por volta de 65,6 bilhões de reais. Apenas na tentativa de redução da poluição, gastarão 16,5 bilhões de reais. Mesmo assim, os atletas deverão se habituar a competir numa atmosfera um tanto diferente daquela a qual estão habituados. O COI – Comitê Olímpico Internacional - poderá incluir uma nova modalidade, a corrida de escafandro.

Com todos esses investimentos, viva o espírito olímpico, ou, como diria hoje o Padre Dideon,
Adidius, Naikius, Altius Lucrus!


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28.7.08

433 - De galinhas e dromedários


Foto: Wikipedia
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De galinhas e dromedários

Por Paulo Heuser


Ontem estive num supermercado, no Interior, onde havia degustação de lingüiça, ofertada por uma bela e gentil demonstradora. Passei, pois achei meio esquisito comer lingüiça às 8h30. Se fosse às 09h00, quem sabe? Passei, mas não pude deixar de observar a curiosa reação de uma mulher, ao descobrir do que era feita a tal da lingüiça. Após aprovar o sabor, ela arriscou vários palpites a respeito da procedência da carne da lingüiça. Carne de porco, de bovino, de ovino, de frango, de papelão e serragem temperados? Nada. A moça sorria, divertida com a charada. Como a mulher não adivinhava, ela deixou escapar uma pista:

- Vem da Austrália...

A velha senhora estacou, no limiar entre o engasgo e o arremesso do último pedaço da lingüiça, já submetido a tritura pela chapa. Ela ficou imóvel, por alguns instantes, enquanto tentava digerir a informação que recebera. Da imobilidade, passou a ação, descabida, exagerada e desproporcional. Cuspiu o último pedaço da lingüiça, que passou zunindo pela orelha da então apavorada demonstradora. Quase que a chapa foi atrás, impedida no último instante pelo bote certeiro da língua. Subitamente, o rosto da velha senhora tornou-se rubro, e as pestanas ergueram-se, enquanto ela gritava:

- Que nojo! Como é que podem servir lingüiça de carne de canguru?

- É de avestruz, senhora! – tentou remendar.

- Que nojo, mais ainda! Ela mete a cabeça no buraco, para se esconder, e vocês vêm e “Schnnnitt!”, cortam o pescoço dela. Dito isso, ela seguiu, indignada, enquanto repetia o que nojo, ainda mais ainda.

A moça restou parada, com ar de desalento. Aparentemente, não era a primeira vez que ocorria algo semelhante.

- Por que você não os avisa antes, da origem da carne?

Acabei provando da lingüiça, que se mostrou muito saborosa, apesar de serem apenas 08h32.

- Se eu os aviso da procedência, ninguém prova dela! Ficam com nojo. – o ar de desânimo ficou patente.

Veio-me a lembrança o ditado: “Dos aviões e das lingüiças, melhor não saber do que são feitos!”. Prova-se verdadeiro, novamente. A bela jovem parecia tão desamparada, frente ao seu estoque de lingüiças refugadas, que resolvi ajudá-la.

- Por que você não diz que as lingüiças são feitas com a carne da Struthio camelu – nome científico da avestruz -, ave da Oceania, obtida a partir da cruza de galinhas com os raríssimos dromedários de duas corcovas?

Ela pareceu animar-se um pouco. E não é que deu certo? Várias pessoas provaram da lingüiça, e nenhuma cuspiu. Gostaram do tal do Strudel de camelo - como um homem alto e magro denominou a iguaria. Áustria, Austrália, que diferença faz? Mudam apenas duas letras. E uma corcova.

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25.7.08

432 - Os filhos de quem?

João Cândido - O Almirante Negro




Os filhos de quem?
Por Paulo Heuser


Cenário I – Praça da Alfândega, Porto Alegre, RS.

A mulher número 2 do Nestor lê o jornal, jogado fora por algum passante da madrugada. Esta madrugada foi dura, na Praça da Alfândega. O jornal veio a calhar como proteção adicional contra o frio. Antigamente havia os sacos de leite, que formavam uma boa forração no interior da roupa. Depois, trocaram tudo por caixas.

Nestor fica orgulhoso, quando vê a mulher número 2 lendo. A mulher número 1 finge que não vê, pois lhe bate forte ciúme. Os primeiros raios do sol só trazem esperança. O calor ainda não vem. Nestor tem duplo cobertor humano, a número 1 pela direita, e a número 2 pela esquerda. Esta lê devagar, entorpecida pelo frio e pela ressaca da coisa que espanta o frio.

- Viu essa, do tal de João Cândido, Bem?

- Ahã. – arrisca ele, apesar de não saber do que se trata.

- Bem, o que é veto? – ela faz cara de dúvida.

- É aquela coisa, sabe como é... Assim, sabe? Aquele negócio para votar nos manda-chuvas.

- Ah, tá certo. Aí diz que o Lula vetou uma grana preta prá família do tal de João Cândido. O cara ia começar uma guerra contra o Rio de Janeiro, em 1910 – a Revolta da Chibata. Parece que esse João fez uma revolta contra as chibatadas que os marinheiros levavam quando faziam besteira. Que nem tu, Bem, quando a outra aí te deu a surra, outro dia.

A número 1 finge que não ouve.

- Quanto é essa grana preta? – arrisca Nestor.

- Um bilhão! Nem sei quanto dá isso, mas enche a boca só de dizer!

A número 1 parece interessada:

- Por que eles querem pagar tudo isso pro cara?

- Não é pra ele, é prá família dele. Ele já foi prá banha, depois de ficar que nem tu, só que lá no Rio.

- Mas, por que eles querem pagar, se o cara nem tá mais aí prá ver a cor da grana?

- É indenização, Bem. É prá pagar pelo sofrimento deles. Aí diz que esse negócio de pagar indenização pelas coisas de antigamente virou moda. Os homens do voto dão essa grana, uns para os outros. Brigam para ver quem sofreu mais.

Nestor fica quieto, por um momento.

- Mas, e nós? A gente sofre prá caramba. Rala o dia todo na mendicância, e racha de frio à noite. Também quero essa tal de indenização.

Cenário II – Esplanada dos Ministérios, Brasília, DF

- Ministra, há um tal de Nestor, de Porto Alegre, que insiste em falar com a senhora.

- O que ele quer?

- Ele não fala coisa com coisa, mas parece querer uma indenização.

- Por quê? – indaga a Ministra.

- Ele diz ser descendente do Abel.

- Abel, qual Abel?

- O que foi assassinado pelo Caim, Ministra.

- Abel teve filhos, antes de morrer? Peça um exame de DNA! Vetaram o outro, por muito menos.


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24.7.08

431 - A concorrência forânea


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A concorrência forânea

Por Paulo Heuser


No fim, é tudo uma questão de concorrência. Homens e mulheres concorrem entre si, uns pelo amor dos outros, e vice-versa, seja lá o que isto queira dizer. Municípios vizinhos sempre concorreram uns com os outros. Lembro-me da rivalidade histórica entre a minha Santa Cruz do Sul e as cidades vizinhas, algumas nem tanto, como Cachoeira do Sul. Havia rivalidade entre os colégios, entre as bandas marciais e entre os clubes. Daquela época, veio a quase impublicável expressão: “se cagaram para os de Cachoeira!”, após um jogo de basquete no qual o time da Ginástica perdeu para um time de lá.

Nos bailes, a situação também se complicava, quando os “de fora” vinham competir pela atenção das moças. Vinham de Venâncio Aires e de Rio Pardo, vistos como bárbaros invasores, pelos locais. Os da Capital, então, eram vistos como hunos depredadores da fauna local.

No turismo também há competição entre cidades. Gramado e Canela competem com Nova Petrópolis, esta pelos gaúchos, aquela pelos paulistas. Tudo em bom nível, mas que há competição, isto há. Bento Gonçalves entra com o vinho, Garibaldi com o espumante. Ganhamos nós, os alvos da competição.

A competição estende-se também aos estados. Todo mundo leva algo daqui. Indústrias de calçados, beneficiadoras de fumo, montadoras, cantinas, todos vão atrás dos incentivos fiscais oferecidos pelos outros estados. Nós ficamos com a fama, eles com o investimento. Uma questão de concorrência.

Nas praias, perdemos feio. Santa Catarina nos dá de dez a zero, apesar da superlotação de algumas praias, no verão. Porém, como não preferir a Lagoinha, fora de época? O que falar da Bahia, então? Todas aquelas praias de mar morno, oferecendo as mais diversas maravilhas rústicas, como a água de côco e as lagostas. Bobó de lagosta, lagosta no bafo, bafo de lagosta, moqueca de lagosta, pizza de lagosta, arroz-de-leite com lagosta, carreteiro de lagosta, há qualquer prato de lagosta.

A Bahia também nos supera pelas lembranças de viagem. Em Prado, no sul da Bahia, vendem carrancas de madeira de 1,50 m de altura e meio metro de diâmetro. Tão fáceis de trazer, na bagagem de mão, como os berimbaus e as panelas de barro dos pataxós.

Contudo, nada nos supera na ecologia. Nós os mandamos de volta para o mar, mas os baianos vendem os pingüins que por lá aportam. Na sua próxima viagem a Bahia, não se esqueça de comer lambretas – ostras do mangue -, punhetas de anjo – bolinhos fritos -, e de trazer berimbau e pingüim – vivo -, como bagagem de mão.

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22.7.08

430 - A classe média VII: O Grande Colisor de Hádrons



Fonte: CERN
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A Classe Média VII – O Grande Colisor de Hádrons

Por Paulo Heuser


Linoberto jogou-se na cadeira do Armazém, Bar e Borracharia 12 Irmãos, no Lado de Cá do Cinamomo, último bastião da classe média. O sétimo irmão, dos 12, trouxe o copo da “boa”. Enquanto Linoberto tomava o primeiro gole, não pode deixar de ver que o Estranho estava sentado na mesa da direita. Era tudo que ele não queria ver, após um dia na lavoura. Sabia-se lá o que o Governo havia aprontado agora. Coisa boa, não havia de ser. O Estranho era o único estranho que sabia chegar até o Lado de Cá do Cinamomo, município mais isolado do País, desde que as forças progressistas assumiram as estradas. O Estranho chegara lá por engano, pela primeira vez, após ter violado em muitos decigramas a Tolerância Zero com o álcool. Desde aquele famigerado dia, sempre que o Governo desejava impor uma nova lei, enviava o Estranho.

Linoberto pensava no que seria, desta vez. Alguma nova lei besta, com certeza. Seus pensamentos foram interrompidos pela aproximação do Estranho, trazendo sua cadeira e seu copo da “boa”. Após seis visitas, ele já tolerava a pinga com carqueja e losna, que causava arrepios nas narinas dos inexperientes. O Estranho chegou, sorridente:

- Boa tarde, Linoberto! Como tem passado? – havia um estranho brilho de satisfação no olhar dele.

- Estive ótimo, até a sua chegada! – disse o ressabiado Linoberto.

- Quanta desconfiança! – disse o homem, sorrindo marotamente.

- Qual é a nova Besta lex, sed Lex? – A lei é besta, mas é a lei.

- Calma, Linoberto. Desta vez venho como representante do Ministério da Educação e Cultura. Estamos iniciando um programa de difusão da ciência, chamado Ciência Democrática Popular Revolucionária Campesina Operária. Levaremos os segredos do Universo, antes propriedade das elites, para todo o povo.

- Qual é a bomba, desta vez? – perguntou-lhe Linoberto, enquanto observava, com o canto do olho, um sujeito mais estranho, parado ao lado da camionete do Governo do Outro Lado do Cinamomo - a União, os Estados e todos os outros os outros municípios do País. O sujeito mostrava o olhar bestificado de quem nunca vira uma vaca, que, por sinal, mugia. Ele tentava medi-la, como se fosse a descoberta do século.

- Não é bomba, creia-me, Linoberto. Estamos apenas difundindo conhecimentos científicos para a população menos esclarecida.

- Está nos chamando de burros? – ofendeu-se Linoberto, enquanto a vaca mugia.

- Não, pelo amor de Deus, me referia a quem não tem tanto acesso à informação!

- Tudo bem, mas qual é a idéia?

- Bem, falei com o Sétimo – sétimo dos 12 Irmãos – que está exercendo o mandado de Prefeito, e ele me falou que você está acumulando também a Secretaria da Educação, Cultura e Entretenimento, além das de Obras e Fazenda, do Município do Lado de Cá do Cinamomo. Pois bem, trouxemos o Doutor Bárion Gluon, para realizar uma palestra científica extraordinária, de inclusão científica!

- Do que se trata? Algo sobre a ordenha mecânica? – perguntou-lhe Linoberto.

- Não, nada tão prosaico e inútil, cientificamente. O Dr. Bárion veio dar uma palestra sobre o LHC – Grande Colisor de Hádrons – instalado entre a França e a Suíça, pela Organização Européia de Pesquisa Nuclear.

- Sei, nos ensinará muita coisa útil para o desenvolvimento da agricultura familiar. – ironizou Linoberto.

- Bem, talvez o tema da palestra não seja exatamente o que vocês queriam ouvir, porém é a lei. Votaram a Lei da Inclusão Nuclear. Toda a população do País assistirá às palestras do famoso Dr. Bárion.

- Entendi, Besta Lex, sed Lex – a lei é besta, mas é a lei.

O Estranho tomou um gole da “boa”, concordando com Linoberto.

Já que era a lei, apesar de besta, Linoberto convocou a população do Lado de Cá do Cinamomo, para assistirem à palestra do renomado Dr. Bárion Gluon. O Padre Antão propagou a boa nova, em tese, durante a missa das seis. O Sétimo organizou as cadeiras, para a platéia, em filas sucessivas. Às sete em ponto, o Dr. Bárion estava postado junto ao balcão do bar, encarando aquela multidão de quinze pessoas – os doze irmãos, Padre Antão, Dona Clotilde e Linoberto. O Dr. Bárion chegou a cogitar o cancelamento da palestra, por falta de quórum, mas o Estranho lembrou-lhe que era a lei.

Dr. Bárion começou a preleção falando do valor do investimento.

- Já foram gastos oito bilhões de Euros!

O Sétimo não resistiu, e fez a primeira pergunta:

- Daria para comprar um trator novo, para a Prefeitura, com esse dinheiro?

- Daria para comprar mais de quarenta milhões de tratores! – divertiu-se o sábio doutor.

Satisfeito, com o silêncio gerado entre aquela multidão, Dr. Bárion continuou:

O Colisor de Hádrons tem extensão de 27 quilômetros, e está enterrado a cem metros, abaixo do solo! – ele parecia extasiado com as caras boquiabertas, em meio à platéia. O Sétimo moveu-se ruidosamente, sobre a cadeira. E não se conteve:

- Espera aí! Que porcaria é essa de rádron?

- Hádrons, senhor! – o doutor pareceu ofendido – Hádrons, por definição, são partículas que interagem fortemente com outros hádrons!

A esclarecedora explicação fez o queixo do Sétimo cair, mas ele não se deixou vencer tão facilmente:

- E que porcaria de colisor é essa? – ele tomou outro gole da “boa”, de sopetão.

- Colisor, senhor, é um acelerador de partículas que faz hádrons colidirem, em altíssima velocidade, liberando enormes quantidades de energia, gerando, inclusive, eventuais partículas que beiram a singularidade, ou seja, minúsculos buracos negros. Porém, não há o que temer, em relação a esses buracos negros, senhor.

O Sétimo ficou lá, parado, de boca aberta, quase representando uma singularidade bucal. Mas, não se furtou a expressar sua opinião sincera:

- Ora, fossa negra todo mundo tem em casa! Só que a gente não faz propaganda dela, deixando para os tatus-bola.

O Dr. Bárion fez cara de quem não entendeu. Aquela cara urbana de quem não conhece a singularidade sanitária do grotão.

Então, Padre Antão tentou quebrar o gelo, sentindo que a coisa iria enveredar por um caminho não tão científico.

- Doutor, qual é o propósito de tal experimento?

- Excelente pergunta, Padre! O colisor tentará observar os Bósons de Higgs!

Padre Antão tentou parecer esperto.

- Percebo...

- Percebe, nada! – gritou o enfurecido Sétimo – Para que serve essa porcaria, afinal? Fale como gente, homem!

Pela primeira vez, Dr. Bárion pareceu preocupado. O Sétimo ficara realmente perturbado. Era hora de usar a linguagem do povo:

- Bem, é para tentar encontrar a origem da massa...

Ele não conseguiu terminar a frase, interrompido pela gutural gargalhada do Sétimo. Ele sacudia-se na cadeira, dando verdadeiras barrigadas. Lágrimas de riso escorriam pelo rosto. Ele mal conseguiu articular a frase:

- Quiá, quiá, quiá! Gastaram mais de quarenta milhões de tratores, cavaram 27 quilômetros de fossas, de cem metros de fundura, para descobrirem o que todo mundo aqui sabe!

- Perdão, não entendi! – afirmou o espantado Dr. Bárion.

- Quiá, quiá, quiá! Todo mundo sabe que a massa vem da casa da Dona Tramontini, que mora atrás do cemitério! Ela é a única gringa da região!

O Dr. Bárion Gluon voltou para o Outro Lado do Cinamomo. Pensava em lecionar ponto-cruz, ponto-cheio e vagonite.

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429: Yi, er, si!



Fonte: Wikipedia
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Yi, Er, Si!

Por Paulo Heuser


Entre outros vícios, como o de contar botões, tenho o hábito do jogo. Faço uma fezinha, na Mega Sena, duas vezes por semana. Jogo todas as quartas e sextas-feiras, três bilhetes “no escuro”. Eu comprava os bilhetes, na loja de uma senhora chinesa, através de uma monótona rotina. Entrava na loja, pedia três Mega Senas e uma Quina de cinqüenta centavos, para arredondar o valor em cinco reais. Ela escolhia os bilhetes, e tentava me vender um café de máquina. Eu recusava, alegando que só tomaria o café quando acertasse na loteria. Porém, algo mudou, faz umas duas semanas.

Os numerais são estranhos, em outras línguas. Os antigos romanos gastariam todo o alfabeto, pela falta do zero. Quem for aprender o idioma alemão, logo perceberá uma diferença enorme nos numerais, quando comparados com os numerais em português. Vinte e um vira einundzwanzig – um e vinte, literalmente. As unidades precedem as dezenas, em alemão. Para quebrar qualquer tentativa de se estabelecer uma regra lógica, os milhares precedem as centenas, que precedem as unidades, que, por sua vez, precedem as dezenas. Para complicar um pouco mais, as dezenas de centenas são utilizadas como no idioma inglês, quando se tratam de datas. Mil novecentos e vinte e um vira algo que, traduzido literalmente para o alemão, fica dezenove centenas, um e vinte. No idioma inglês ficaria um misto dos dois, traduzido como dezenove centenas, vinte e um.

Os italianos e os alemães escrevem numerais por extenso que tiram o fôlego de qualquer um, pois não colocam espaços entre as palavras que compõem o número. Três mil e novecentos e oitenta e sete vira um desses dois horrores, quando traduzido para o italiano ou o alemão, respectivamente: tremilanovecentoottantasette e dreitausendsechshundertsiebenundachzig. Com milhões e bilhões ficam ainda melhores.

Eu pensei que o pior vinha da França. Por alguma razão, eles só foram até o sessenta, com as dezenas faladas. O que gera inevitáveis confusões quando um francês informa o preço de alguma coisa a quem não conhece os numerais deles. Setenta, por exemplo, é soixante dix – sessenta dez. Noventa, vira quatre vingt dix – quatro vinte dez. Há quem atribua essa adoração pelo vinte a um sistema numérico céltico baseado nesse número.

Creio que ocorreu alguma reforma numérica na China, pois a dona da loja, na qual compro meus bilhetes, não vende mais três bilhetes, desde que a aposta subiu de R$ 1,50 para R$ 1,75. Pareceu-me que o número três sumiu. Desde que aos três bilhetes passaram a custar R$ 5,25, dificultando o troco, ela vende um, dois ou quatlo – Yi, er, si. Tlês – San - não! Tlês, só tomando um café.


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20.7.08

428 - Bonjour, monsieur!

Villefranche-sur-Mer. Foto: Paulo Heuser
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Bonjour, monsieur!

Por Paulo Heuser


Aquele telefone da Sibéria tocou. Ele ficava mudo, horas, dias, semanas e meses. Porém, tocou. Eu nem sabia que ele estava funcionando, pois se calara há muito tempo. Repentinamente, tocou. Eu não percebi logo o toque, pois não estava acostumado com ele. Pensei tratar-se de telefone de vizinho. Mas não, era o meu. Demorei a encontrá-lo. Daí que perdi a chamada. Era do estrangeiro. Fiquei muito preocupado, pois tenho parente no estrangeiro. Seriam más notícias? Para ligarem para aquele número, que nem mesmo eu sei, boa coisa não seria. Perdida a ligação, como saberia?

Liguei para minha parenta. Não havia sido ela. Quem seria? Há golpe do falso seqüestro em outros países, ou é um privilégio daqui? Ele tocou, novamente. Corri para atender. Tarde demais.

Ele tocou às cinco da matina. Cheguei tarde, novamente. Quem raios ligaria às cinco da matina, se não fosse algo realmente importante? Permaneci em semivigília, esperando que o telefone da Sibéria tocasse novamente. Às sete horas, me rendi. Babei direto. A posição de vigília deu lugar à cabeça pendente, escorrendo baba. Acordei a tempo. O estranho telefone tocava novamente. Cheguei a tempo de atendê-lo. Ansioso, gritei alô. Um alô que não conseguia disfarçar a ansiedade. Quem seria, o que seria, por que seria? Só consegui ouvir o “- Bonjour, monsieur”, nada mais. Após, veio o tom de queda da ligação. França, Bélgica, Luxemburgo, Canadá, Guiana, de onde diabos seria?

Revisei minha lista de contatos na França, e reduzi minha lista a apenas uma possível candidata. Uma única pessoa que mora na França. Ela mora em Villefranche-sur-Mer, ao lado de Nice, na Côte D’Azur, antes de se chegar a Mônaco. Um lugar onde devem ter jogado anilina no mar, de tão azul que é. Seria ela? Precisaria de ajuda do Brasil? Ou seria aquele simpático casal de Reims, que um dia me ajudou? Pensando bem, não poderiam ser eles. Ninguém tem o meu número da Sibéria.

Esqueci-me do assunto, até que o telefone da Sibéria tocou novamente, às cinco horas de ontem. É muito elegante ser acordado em francês. Contudo, esperava dormir um pouco mais, especialmente no sábado. Atendi, e ouvi algo mais, dessa vez. “- Bonjour, monsieur, vous avez oublié...”. A ligação caiu novamente. Corri ao meu livro de Francês Para Telefone da Sibéria e descobri que a gentil senhora francófona me avisava de que eu havia esquecido algo. Ficaria grato, se ela me dissesse o que eu havia esquecido, e onde.

De súbito, percebi que eu estava bancando o idiota, coisa que eu faria o tempo todo, segundo minha mulher. O que eu teria a ver com aquilo? Aquela mulher que fosse francofonar com outro. Resolvi ignorar completamente o assunto, até que o telefone da Sibéria tocou novamente. “- Bonjour, monsieur, vous avez oublié votre brosse à dents”. Assim, tudo mudou. Desfrancofonando a frase, descobri que eu havia esquecido minha escova de dentes. Em Mônaco. Graças ao meu dicionário para viajantes, consegui traduzir quase tudo. Escapou apenas uma palavra. O que será Catchiolá?

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17.7.08

427 - Uma questão de óptica



Madonna des Kanonikus - Georg van der Paele de Jan van Eyck
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Uma questão de óptica

Por Paulo Heuser


Boa parte da percepção do mundo ao nosso redor ocorre através dos nossos olhos. Sendo assim, devo perceber um mundo meio tordo, e fora de foco, pois o Criador não estava exatamente num bom dia, quando criou meus olhos. Talvez isso explique por que vejo o mundo de forma diferente, quando comparado com aquele visto por outras pessoas. O astigmatismo nem incomoda muito. Porém, combinado com a presbiopia e a hipermetropia, torna a leitura em grande desafio. E me leva à percepção de coisas que os outros não vêem. Uma questão de óptica, sem dúvida.

Estudei óptica, com direito aos experimentos de laboratório. A primeira grande dúvida que surge é: será óptica ou ótica? Logo aprendemos que a óptica diz respeito à visão, e a ótica à audição. O laboratório de óptica, curiosamente, era escuro. Usávamos a ótica para realizar experimentos de óptica, já que o único sentido útil, no escuro, era a audição, além do tato, é claro. Além de apagarem todas as luzes, tapavam todas as frestas por onde pudesse entrar luz externa. Outra coisa curiosa era o roteiro do experimento, impresso no papel com caracteres Times New Roman, tamanho 8. Muito bom para ser lido no escuro - pelos morcegos, bem entendido. Lá, os óculos podiam ser dispensados. Nada se enxergava, com ou sem eles. Para não dizer que o experimento era lazer, trabalhamos com laser. Um professor mais distraído poderia se esquecer de avisar os seus alunos do perigo de se olhar para uma fonte de luz coerente, como o laser. A luz dele frita o fundo do olho. Uma questão de óptica, sem dúvida.

Hoje, numa roda de conversa jogada fora, descobri que realmente tenho uma visão distorcida do mundo que me cerca. Fui um dos poucos que acharam engraçado o episódio do delegado que foi fazer um curso. Poderiam encontrar uma explicação mais digerível, para retirá-lo de cena. Desse jeito, ficou difícil de engolir. Está certo, o homem exagerou. Chamou a Globo e mandou algemar os detidos. Foi uma festa para os olhos do povo, mas fica difícil imaginar o Pitta ou o Dantas fugindo a pé, ou se engalfinhando em luta corporal com os agentes. Vá lá que o delegado vai ao curso, mas que ficou esquisito, ah, isso ficou. A história dos trechos da gravação, piorou mais ainda. Agora, até os grampeados estão loucos para divulgar os grampos, com a alegação de que não é possível provar o que não está grampeado (?), mesmo que em pedaços.

Disseram-me que não vejo os fatos pelo outro ângulo. Falta-me óptica. Eu deveria olhar o problema pelos dois lados, assumindo que o problema tem apenas dois lados, naturalmente. Seriam os lados do bem e do mal? Do branco e do preto? Cada lado é apenas uma visão, pelo outro lado, dele mesmo? Uma questão de óptica, sem dúvida.

Contudo, se o soneto – o afastamento - já pareceu esquisito, a emenda – o fica delegado - foi ainda pior. Há coisas que não têm conserto. Quando se quebram, deixe estar. Não importa por que lado eu olhe, me dá uma tremenda vontade de rir, para não chorar. O riso é o outro lado do choro. Uma questão fisiológica, sem dúvida.

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16.7.08

426 - O despertar

Foto: Wikipedia
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O despertar
Por Paulo Heuser


Talvez seja apenas outra dessas lendas urbanas que contam histórias fantásticas e inverossímeis a respeito de mendigos. Esta conta a história do Nestor, atual personagem número 1 da Praça da Alfândega. Ele sucedeu o antológico Penúltimo Caudilho, que foi varrer os quartéis da Rua da Praia. A praça andou meio sem dono. Foi-se também aquela senhora volumosa que agenciava as moças faceiras. Foi-se também a inocência dos jogos de damas, nos tabuleiros da Capitão Montanha. Deram lugar ao informal Cassino Alfândega, ironicamente vizinho do grande cassino do Governo. No horário de lagartear, após o almoço, Peru Louco e Tio Funério reinavam absolutos. Porém, faltava alguém que tomasse conta da praça em tempo integral. Um residente, portanto.

Nestor foi se chegando, durante o ocaso do Penúltimo, faz uns três anos. Começou com o característico me-dá-me-dá. Desfia uma interminável súplica, digna de derrotar uma equipe de beatas disputando uma novena olímpica. Ele é um sujeito moreno e calvo, que reparte as atenções das suas duas mulheres, uma jovem, outra mais castigada pela vida na rua. Com o tempo, Nestor ficou. Morar nessa praça, apresenta vantagens. O povo que circula por lá é mais abonado, pertence à classe média média. São os melhores para dar esmolas. Sempre sobra um pouco, ao contrário do que acontece com os pobres, e o coração deles é um pouco mais mole do que o dos ricos. Especialmente o das mulheres que vestem taieur claro. Azul claro é o melhor. São as vítimas preferidas para o achaque do Nestor. Ele gruda ao lado delas, que tentam se equilibrar sobre os sapatos de salto alto, enfiados nas frestas daquele infame calçamento da praça. Dão qualquer coisa, para se livrarem dele. Assim ele toca a vida, provendo casa e comida para as suas famílias. A casa varia de lugar, conforme sopra o vento.

Agora, vamos à lenda. Ela reza que o Nestor foi um empresário de sucesso, que sofreu grave acidente, em 1985. Ele havia angariado tal capital, que já se permitia viver de rendas, sem necessariamente tricotar. Nestor estava de malas prontas para viver em Bombinhas, Santa Catarina. Praia pequena, calma, com natureza exuberante, muito diferente da badalação que destruía o paraíso da Ilha de Santa Catarina. Nestor havia investido pesado no mercado de telecomunicações. Ele comprou mais de cem linhas telefônicas, algumas por quatro mil dólares, para viver da renda do aluguel. Homem calejado, no ramo dos negócios, ele investiu outro tanto na compra de uma rede de locadoras de fitas de videocassete. O homem estaria garantido, até o fim dos seus dias.

Então, veio o acidente, e Nestor ficou em coma durante os 20 anos seguintes. O maior azar dele foi acordar, finalmente. Havia perdido a mulher, que juntou os trapos com alguém que não passava os dias e as noites dormindo. Foi assim, do nada, que Nestor se viu acordado. Da centena de linhas telefônicas, sobraram as contas pendentes. A rede de locadoras quebrou antes da virada do milênio. Os antigos amigos fugiram dele. Nestor foi previdente, e guardou um milhão de dólares. Numa conta em um banco argentino. Da ex-mulher só ouviu uma frase:

- Eu vou enchê-lo de formigas, num canteiro de urtigas! – gritava ela, enquanto lhe dava guarda-chuvadas a rodo.

Só e desiludido, Nestor se mandou para a sua nostálgica Bombinhas. Viveria feito hippie, na beira da praia. Voltou, a pé. E na praça, conquistou novos amores.


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14.7.08

425 - Sanitários turcos



Foto: Wikipedia


Sanitários turcos

Por Paulo Heuser


Não gosto das continuações numeradas. Vi o anúncio do lançamento do filme Meu Primeiro Amor 2. Sendo dois, o filme deveria se chamar Meu Segundo Amor. Não há como ser duas vezes o primeiro. Assim, recusei-me a escrever Liminariana 2. Para quem não leu o um, que por sinal não foi numerado, por ser único naquela época, Liminariana tratava da saúde pública, na república homônima, uma democracia localizada ao sul do Pólo Norte, classificada pelo G8 como “potência emergente fortemente lastreada”, já que vem tentando emergir há muito tempo. É de lá que os sistemas públicos de saúde, de diversos países emergentes, importam o poderoso placebo farmacológico Exkrement II, ao custo de US$ 700 por comprimido, apoiados em liminares obtidas pelos advogados dos pacientes impacientes.

Liminariana voltou às manchetes porque a Milícia Liminariana – espécie de FBI local – começou a funcionar. Após investigarem muitos membros do Parlamento Liminariano, blindados pelo manto legislativo, descobriram que era muito mais fácil prenderem os grandes empresários envolvidos nos processos heterodoxos do relacionamento público-privado, ou seja, nas maracutaias. As prisões foram fartamente noticiadas, com imagens dos poderosos algemados. A celeridade cautelar fez com que as carceragens da Milícia Liminariana se parecessem com casas de encontros, pelo entra e sai das celebridades heterodoxas. A vantagem do prende e solta é a dupla, tripla ou até quádrupla satisfação sentida pelos cidadãos, ao verem os tubarões, antes intocáveis, serem presos, mesmo que temporariamente. Para os advogados, cada prende e solta representa renda adicional. Liminariana viveu dias de euforia, pois a população começou a acreditar na existência de justiça, mesmo que gaguejante. Os heterodoxos não gostaram. O uso de algemas comuns causou muita indignação. Serem presos em segredo, sem algemas, era uma coisa. Porém, aparecerem algemados, em todos os noticiários, era algo completamente diferente. Contudo, deixarem todo mundo saber que utilizariam sanitários turcos – buracos no chão -, foi a suprema humilhação. O cara andava de Mercedes, tinha iate em Mônaco e casa em Portofino, mas ficava de cócoras para fazer aquilo na cela. E, o que é pior, com todo mundo sabendo disso. Mesmo que batesse a maior prisão de ventre no sujeito, ninguém acreditaria na história. Um francês talvez não se importasse tanto. Para um liminariano, no entanto, era demais. O prende e solta provocou forte demanda nos serviços jurídicos de Liminária, a capital de Liminariana. A falta de planejamento jurídico começou a cobrar seu preço. A Milícia teimou em não divulgar o calendário das suas ações, deixando os heterodoxos em polvorosa.

Os advogados dos heterodoxos tentaram angariar alguma simpatia, por parte dos cidadãos comuns, deixando passar a idéia de que eles seriam os próximos a sentirem os rigores da lei. Eles seriam os próximos acocorados no sanitário turco. Na verdade, os advogados de Liminariana estavam lançando as sementes de um novo serviço, que, graças aos céus, ainda não foi lançado por aqui: o plano jurídico Prisão Feliz. Dividido em quatro categorias: Básico, Prata, Ouro e Platina, o Prisão Feliz é o equivalente jurídico do plano de saúde. Até mesmo o plano Básico já garante a prisão em cela com vaso sanitário, desses sobre os quais se pode sentar. E todo mundo saberá disso.

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10.7.08

424 - Renda metálica


Foto: Paulo Heuser
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Renda metálica

Por Paulo Heuser


Explicar para uma criança o que é renda, não é tarefa fácil. Mais fácil é explicar a falta dela. Faltou mufunfa, ronca a tripa. Simples e didático. Pois o filho do Zé andou perguntando sobre a relação entre a renda e os metais, o que fez o pai ficar muito orgulhoso. Não é comum uma criança se interessar tão precocemente por economia. E o menino já falava na relação entre moeda e renda! Um espanto, sem dúvida.

Zé explicou ao menino que as moedas eram feitas de metal porque estes sempre foram materiais preciosos e duráveis. Até hoje são encontradas moedas muito antigas nos resgates de naufrágios, como os dobrões espanhóis e portugueses. Explicar o conceito de papel-moeda já seria mais difícil, ficaria para mais tarde.

- Do que são feitas as moedas? – perguntou o menino.

- De vários materiais, como níquel, bronze, prata e ouro. – respondeu-lhe o Zé.

- Dá para se fazer moeda de cobre, Pai?

- Dá, filho. O bronze é feito misturando cobre com outros metais.

- Ah, bom... E ferro, Pai? Dá para se fazer moeda de ferro?

- De ferro puro, não, pois elas acabam enferrujando.

- Dá para misturar o ferro, para fazer moeda? – insistiu o menino.

- Dá para fazer de aço, filho. Aço é uma mistura de ferro com carbono. Quando se mistura níquel ou cromo, obtém-se aço inoxidável, que é usado para fazerem moedas.

- Ah, então comecei a entender... Metal é renda. – o menino parecia quase satisfeito.

- É mais ou menos isso, meu filho. As pessoas que têm renda recebem dinheiro, e moeda é dinheiro!

- Elas pegam, na verdade, não é?

- Não, elas recebem em troca do trabalho. O empregador paga os funcionários, que hoje em dia são chamados colaboradores, e estes gastam o dinheiro comprando os produtos fabricados pela fábrica do empregador, deixando-o muito feliz. Esse é o ciclo fundamental que move a economia. Zé ficou satisfeito com sua própria explicação. O menino também, pois abriu um sorriso típico daqueles que viram a luz, e exclamou:

- Agora eu entendi! Aqueles caras que pegaram os fios de cobre do poste, e os que pegaram as alças do túmulo do vovô, trabalham para os fabricantes de fios e de alças de túmulo. Eles estão movimentando a economia!

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5.7.08

423 - Onde está você?



Foto: Wikipedia
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Onde está você?

Por Paulo Heuser


Todo dia surgem inovações tecnológicas que maravilham os tecnófilos. Há gente que não gosta de permanecer horas a fio olhando para pequenas telas, enquanto apertam minúsculos botões. Porém, a maioria gosta. Um habitat dos tecnófilos é o saguão do aeroporto. Eles usam mochilas de acampamento, trocando o saco de dormir pela parafernália eletrônica. Ambos são muito úteis, nos dias de hoje. O sujeito pode repousar, enfiado no saco de dormir, enquanto espera o aeroporto abrir. Para passar o tempo, acessam os sítios de tecnologia da Internet, onde encontram novas parafernálias eletrônicas, que exigem novas mochilas. Por falar nelas, algumas estão recheadas com baterias para os inúmeros dispositivos que fazem parte do uniforme de executivo moderno. Há modelos que foram dotados de painéis solares, carregando as baterias enquanto o usuário anda ao Sol, ou seja, nunca.

Quem carrega todos esses trastes está em um de três lugares: na sala de espera do aeroporto, na sala de espera dos clientes ou na sala de espera de casa. Eles nunca chegam, estão sempre esperando. Os tecnófilos sofrem muito com a depressão tecnológica provocada pela descoberta de que a sua parafernália eletrônica não é mais a mais moderna. Lançam algo mais avançado, e, o que é pior, sempre há pelo menos duas novas gerações de trastes, prontas para lançamento, na espera apenas pelo obsoletismo da anterior. Os compradores das tralhas têm apenas uma semana de prazer da novidade. Após o descanso do sétimo dia, tornam-se aqueles que têm o modelo anterior. Poucas coisas vexam mais um tecnófilo que a propriedade de um modelo anterior.

Os fabricantes das tralhas apelam para alguns artifícios, para venderem os novos modelos da parafernália eletrônica. Eles contratam pessoas com a aparência de tecnófilos bem sucedidos, que andam pelas salas de espera dos aeroportos, exibindo o objeto do desejo daqueles que adoram telinhas e ícones. As tralhas já vêm sem botões. Basta fincar-lhes a unha. Os mais sofisticados salões de estética já oferecem o trato de unhas compatível com iPhone Touch, maravilha que combina as funções de computador e uma série de outras coisas. Ah, é um telefone. De toque?

O melhor das tralhas eletrônicas ainda está por vir. Você deixará de ser apenas um ponto na multidão. Será um ponto identificado na multidão identificada. Seja através do chip do seu celular, seja através de reconhecimento biométrico, eles saberão onde você está. Quem são eles? Ora, são eles. Os que querem lhe vender algo. Você entrará numa loja de departamentos e o computador do marketing perceberá sua presença. Ele consultará o banco de dados, pesquisando quais foram suas últimas compras, seu crédito, seus hábitos, hobbies, etc. Aí você estará ferrado. Seu cadastro poderá indicar que é louco por lingiere feminina, graças a sua namorada, que levou seu celular por engano, no dia em que ela fez compras naquela loja. O sistema de som ambiental anunciará, a plenos pulmões:

- Boa tarde, Sr. Fulano. Recebemos novos modelos de espartilhos para seu manequim, na cor que você usa!

No restaurante, a coisa poderá ficar igualmente complicada, mesmo sem troca de identidade. O garçom poderá lhe trazer um cardápio alternativo, após verificar no banco de dados o resultado do seu último exame de colesterol. Você pedirá camarão frito e ele lhe trará peito de frango cozido no microondas. Você pedirá vinho, ele lhe trará suco de uva, pois o computador saberá que você entrou pelo estacionamento. Mesmo chegando de táxi, poderá ter problemas. Quem pedir um vinho mais caro, para impressionar a mulher que o acompanha, poderá ouvir:

- Excelente escolha, senhor! Porém, devo avisá-lo de que o sistema informa que esse vinho está além das suas possibilidades de consumo. Pelo seu retrospecto enológico, o senhor não saberá apreciar a bebida. Ele lembra também que a prestação do carro vence na segunda-feira, e a do motel, cuja última fatura o senhor parcelou, na terça. Para beber, lhe recomenda cerveja.

Florescerá o mercado do celular-laranja. Venderão aparelhos com chips que levarão ao cadastro de monges contemplativos enclausurados, que nada consomem, além de comida e túnicas simples. Quando o reconhecimento biométrico for implantado por toda parte, as burkas – vestimentas muçulmanas que cobrem todo o corpo – serão muito utilizadas, inclusive pelos homens, na tentativa de passarem incógnitos.

Ontem, tememos os vendedores de enciclopédias. Hoje, tememos os gerúndicos telemarketeiros. Amanhã, temeremos a sombra. Ela pode ser biometricamente reconhecida.

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4.7.08

422 - Um lugar para exercer a cidadania



Foto: Paulo Heuser
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Um lugar para exercer a cidadania

Por Paulo Heuser


O Parágrafo único do Art. 1º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 reza que: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Tudo muito bonito, especialmente quando lido pelo pessoal lá de cima do palanque. Quando o povo emana o poder através dos seus representantes eleitos, tem havido discordância quanto à qualidade do produto do processo democrático. Ou seja, as leis e os governantes não são exatamente aquilo que o povão esperava. Os que emanam o poder têm duas formas para mostrarem seu descontentamento com a atuação dos seus procuradores legais.
Uma forma de protestar passa pelas urnas. Quando o eleitor se sente traído, poderá optar por outro candidato, na próxima eleição. Porém, não o faz, talvez por não lembrar em quem votou. Alguns votam no candidato mais pitoresco, em forma de protesto. Os partidos mais espertos já colocam um chamariz das moscas descontentes. Ele se elege, mesmo tendo um discurso absurdo e uma imagem caricata. De qualquer forma, o eleitor será governado por quem elegeu. Seria melhor se protestasse antes, não depois.

Outra forma de protesto é o protesto em praça pública, cada vez mais exercido. Aquele parágrafo único da Carta garante que o poder poderá ser exercido diretamente. Isso incomoda. Sempre há alguém no meio do caminho, exercendo esse direito. A desorganização é total. Deveria haver uma agenda de protestos, dando preferência aos domingos e feriados, fora da hora de maior movimento. Falta estrutura para tratar dos protestos. Poderiam criar ministérios e secretarias de estado para tratarem dessas manifestações populares. Os protestos atrapalham a vida de quem não está protestando naquele momento. Sei que a idéia é exatamente esta, dar visibilidade ao problema, mas isto pode parecer válido quando o protesto é eventual, extraordinário. Quando faz parte da rotina, deixa de ser protesto e passa a fazer parte do leque de manifestações culturais. Seriam então os órgãos de apoio à cultura, os responsáveis? Alguém tem de tratar do assunto, pois o trânsito está uma porcaria, não só pelo aumento do número de carros. Fiquei tão pessimista, que confundi uma cerimônia de entrega de novas ambulâncias com um protesto dos socorristas, por melhores salários. No fundo, parece tudo igual, pois atrapalham o trânsito.

Um protesto não difere muito de um espetáculo de arena. Há pelo menos duas partes em conflito, mesmo que uma não saiba disso. Há também os catalisadores, os elementos que possuem agenda específica, para bagunçarem mais o coreto. São os sujeitos de aparência erudita, pastores ideológicos que conduzem os simplórios. Eu já acredito na existência de plantões de protesto, compostos de estudantes de meia-idade que podem ser mobilizados em poucos minutos. Eles compõem os batalhões do teleprotesto, evolução natural das telemensagens, que caíram no esquecimento.

Uma pasta constituída para tratar dos protestos poderia começar pela organização de horários e locais. Há uma tendência natural para moverem as praças de eventos para fora das cidades. O Coliseu de Roma, por exemplo, foi desativado como sede de jogos. Ninguém mais luta lá dentro, afora turistas japoneses procurando pelo melhor ângulo fotográfico. Tampouco promovem peladas de futebol, no seu interior. Os times construíram novos anfiteatros, fora do centro da Cidade Eterna. As corridas de carroças ocorriam no Circo Máximo, vizinho do Foro Romano. Hoje, ocorrem em Monza, longe de lá. Velhas cidades encontram novas soluções, pois é apenas uma questão de organização.

O que faz falta, por aqui, é uma arena de protestos, um protestódromo. Já temos sambódromo, camelódromo e crackódromo, por que não utilizarmos um deles para sediar os protestos? Com investimento quase nulo, auferiríamos ganhos importantes na liberação do trânsito. Lá todos poderiam exercer a cidadania à vontade. A redução da emissão de gases do efeito estufa seria um destaque. Carros em marcha lenta poluem muito mais, por mais tempo. A redução da irritação com os engarrafamentos, gerados pelas marchas de protesto, tornariam os eleitores mais simpáticos aos governos. Todas as esferas de governo poderiam compartilhar o protestódromo. Por que não organizarem megaprotestos ecumênicos, contra os governos federal, estadual e municipal? Algo como um Megaproteshow Federativo. A agenda seria sorteada entre os sindicatos e movimentos sociais. Os estudantes de meia-idade montariam seu plantão naquele local, abrindo a Uniprotesto. Os candidatos eleitorais poderiam utilizar o espaço para os comícios-protesto.

São apenas sonhos, idéias que surgem durante os congestionamentos de trânsito. Quem não concordar, sempre pode protestar. Há espaço!

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2.7.08

421 - De pelancas e ossos



Foto: Wikipedia
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De pelancas e ossos
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Por Paulo Heuser
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A rapaziada anda se reunindo na casa de alguém para fazer um churrasco. Até aí, nenhuma novidade. Quando eu me incluía nessa faixa etária, a opção pelo churrasco era econômica, antes de tudo. Não havia opção mais barata de cardápio, com exceção do carreteiro. Mas, como carreteiro que se preze leva charque ou carne de churrasco, fazia-se necessário assar primeiro o churrasco, para depois preparar o arroz de carreteiro. As televisões de cachorro com tele-entrega já permitem que se pule diretamente à segunda etapa. Basta encomendar um vazio assado, para obter a matéria prima para o arroz. O que me surpreendeu, mesmo, nos atuais churrascos da rapaziada, foi o cardápio: pizza. Há razões para essa mudança.
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O churrasco era barato porque não havia toda essa frescura de cortes que andam hoje por aí. Assavam-se costelas e alguma carne sem osso, para as madames. Com a picanha, ninguém sonhava. Ela vinha agregada a outro corte qualquer, pois ainda não havia sido tipificada. O carvão não competia em preço com a carne. Ainda não vinha com alça para transporte, tampouco tinha sabor. Do jeito que as coisas vão, em breve teremos butiques carvoeiras, que poderão se chamar charboneries, desde que não sejam confundidas com as sociétés secretes francesas, onde a carne é a caça. Nas charboneries serão degustados carvões diferenciados de madeiras nobres, do picumã de Nectandra megapotamica (canela-merda) até o parfum dos carvões oriundos da queima de velhas pipas de conhaque, de carvalho francês. Tudo era mais simples, a começar pela guarnição: pão. Curto e seco, tal qual a palavra pão.
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O problema com o preço do churrasco foi a exploração na bolsa. Os insumos para o churrasco deixaram de ser mercadorias e viraram commodities. Há especuladores jogando dinheiro na bolsa de commodities. Apostam hoje na sua paleta de amanhã. Aí não tem mais jeito. Quando a costela gaudéria ganha embalagem a vácuo, rotulada côte de boeuf, a vaca brasileira vai para o brejo francês. Lá será exibida em caprichadas bandejas decoradas com cheiro verde. E nós ficaremos a assar mondongo. Ainda não chegamos ao preço deles, mas estamos nos empenhando com afinco. Em breve, entenderemos por que eles não comem tanta carne como nós (comíamos).
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Ontem me bateu aquela vontade de tomar uma sopa. Fui ao supermercado comprar alguns ingredientes, como batatas, cenouras, espinafre, couve e carne. Procurei pela autêntica carne para sopa, daquelas que são formadas por pelancas e ossos. Nada melhor para preparar um bom caldo básico, após uma hora de fervura. Saí apavorado. O que havia de mais pelancudo, e ossudo, custava R$ 9,35 por quilo! Após remexer toda prateleira das carnes, mudei de setor. Fui à peixaria. Mudei a receita para a sopa de lagosta. Sai bem mais em conta. Elas ainda não são commodities. Sai muito caro cozinhar sopa de commodities!
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1.7.08

420 - Ressurreições

Eniac - Foto: Wikipedia
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Ressurreições

Por Paulo Heuser


Pipocam daqui e dali notícias que dão conta da ressurreição de algo ou de alguém. As bolachas de música foram enterradas pelos CDs e DVDs. Na verdade, nunca morreram. Alguns fanáticos continuaram mantendo seus equipamentos em ordem, dando vida adicional ao vinil, que ainda pode ser encontrado nas lojas especializadas. A indústria fonográfica já decretou a morte dos CDs e DVDs, ultrapassados pelos MP alguma coisa. A pirataria tomou conta de tudo. Enquanto a velha bolacha mantém sua qualidade musical inalterada, as novas tecnologias digitais comprimem os arquivos musicais até o limite da perda do timbre. Pavarotti e Ney Matogrosso acabarão com a mesma voz. Essa devastação musical faz com que o vinil retorne, não apenas em forma de velhos álbuns, como também em lançamentos.

Na área dos alimentos, antigas cozinheiras são retiradas da aposentadoria. Elas dominam o segredo da comida feita a partir de ingredientes básicos, sem processamento industrial. Elas sabem preparar o caldo de carne feito a partir de carne. Coisa surpreendente, na era dos tabletes. Elas também sabem temperar com apenas uma fração do sódio embutido nos ingredientes industrializados. Não utilizam corantes, essências nem aromatizantes. O resultado final é surpreendente: pratos que diferem em gosto, um do outro, e têm gosto daquilo que se propõem a ser. O peixe tem gosto de peixe, a galinha tem gosto de galinha e a carne de porco tem gosto de carne de porco. Só não espere ver essas cozinheiras trabalhando num rodízio. Elas passam ao largo.

Na minha profissão – informática -, os profissionais que atuam com os computadores de grande porte (mainframes), são chamados de dinossauros, em alusão ao tamanho dos equipamentos e à iminente extinção, que ainda não ocorreu. Ouço falar dela desde os anos 80. Contudo, nunca chega. A profecia levou ao fim dos cursos de formação dos analistas e programadores que utilizam tal tecnologia, muito diferente daquela empregada nos microcomputadores. É certo que os mainframes diminuíram em número, mas a razão não tem tanto a ver com a sucessão tecnológica na direção da microinformática. Na verdade, quem está sumindo são as empresas que empregam mainframes, grandes indústrias e bancos. A fusão dessas grandes empresas concentra as áreas administrativas. As empresas resultantes das fusões empregam computadores cada vez maiores, porém em menor número. É certo também que novas empresas dificilmente partirão do zero utilizando mainframes. Eles são caros demais, para quem inicia, além de demandarem pessoal que não é tão fácil de se encontrar no mercado. Algumas universidades norte-americanas perceberam que o nicho de mercado dos mainframes não sumiu. Estão recriando disciplinas de programação para mainframes. As aulas são ministradas por professores que utilizam andadores e aparelhos auditivos. Ah, e giz.

Alguns caçadores de talentos andam atrás de profissionais que haviam perdido muito destaque, nos últimos anos. Eram os reis, nas empresas. Ninguém lhes fazia sombra. Eram os economistas, que ocupavam os cargos de gerentes financeiros. Só eles sabem como fazer uma empresa dar um lucro danado sem produzir absolutamente nada, como nos velhos tempos da inflação. Os preços não interessavam muito, o importante era o prazo. Receber antes, pagar depois. Essa arte foi esquecida. Os MBAs não ensinam isso.


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